06/09/2024 - 9:07
Husam Salah Abu Ajwa não queria, mas acabou deixando a filha Tala sair para brincar com seus patins cor-de-rosa do lado de fora de sua casa na Cidade de Gaza. Dois minutos depois, ouviu um estrondo. Um bombardeio a matou.
“Ela implorava e dizia: ‘Por favor, papai, deixa eu sair’. Eu me senti mal porque ela queria brincar com as meninas” da vizinhança, disse Husam à AFP após o ataque de terça-feira. Ao ouvir a explosão, o pai foi correndo para a rua.
“Quando cheguei ao local bombardeado, a encontrei sob os escombros”, explicou.
“Eu a reconheci pelos patins, a única coisa visível”.
Os detalhes do ataque ainda não foram esclarecidos.
A imagem da menina de 10 anos, coberta por um pano branco mostrando seus patins, viralizou nas redes sociais.
Os deslocamentos em massa causados pela guerra e a destruição de escolas privaram as crianças de opções recreativas na Faixa de Gaza.
Mais de 70% das escolas administradas pela Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA) foram destruídas ou danificadas, disse o chefe desta agência, Philippe Lazzarini, no X.
“Quanto mais tempo as crianças passam fora da escola, maior é o risco de uma geração perdida, que alimenta o ressentimento e o extremismo”, disse ele.
“Sem um cessar-fogo, as crianças provavelmente serão vítimas de exploração, incluindo trabalho infantil ou recrutamento para grupos armados”, acrescentou.
Para Tala, o problema era mais básico: ela simplesmente não queria se sentir presa em casa o tempo todo, explica Husam.
“Era alegre e gostava de rir. Adorava sair de casa”, lembra.
“Tinha muitos sonhos. Sempre me pedia muitas coisas e eu a atendia. Ela me disse: ‘Quero um par de patins’, então comprei para ela”, continua.
A guerra em Gaza eclodiu com o ataque do Hamas no sul de Israel, em 7 de outubro, que resultou na morte de 1.205 pessoas, incluindo reféns que morreram em cativeiro, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses.
Dos 251 sequestrados por militantes palestinos, 97 deles permanecem em Gaza, embora o Exército israelense considere que 33 estejam mortos.
A campanha militar de Israel contra a Faixa matou pelo menos 40.878 pessoas, segundo o Ministério da Saúde deste território controlado pelo Hamas. Segundo o escritório de direitos humanos da ONU, a maioria são mulheres e crianças.
Desde o início da operação militar, Husam mal deixava Tala e seus irmãos saírem.
“Ela costumava me dizer: ‘Por que não vivemos como todas as outras crianças do mundo? Eu gostaria que tivéssemos uma vida em paz. Não queremos guerras, mamãe. A guerra já durou demais'”, lembra sua mãe, Um Tala.
“Era uma das melhores alunas e sempre se destacava, era muito inteligente. Costumava dizer: ‘Eu gostaria de poder ir ao parque brincar’. Mas ela está morta e seus desejos também'”.
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