Taís Araujo revela que quase desistiu de papel em ‘Vale Tudo’: ‘Fui muito burra’

Atriz reforçou relevância da representatividade de personagem que foi de Regina Duarte, atriz branca, em 1988

Globo/ Fábio Rocha
Taís Araujo será Raquel em remake de "Vale Tudo", da Globo Foto: Globo/ Fábio Rocha

Quem assistiu à primeira versão de “Vale Tudo”, em 1988, acompanhou a história da mocinha Raquel Acioly contada por Regina Duarte. Porém, no remake da trama, escrita por Manoela Dias, e que estreia dia 31 de março na Globo, a personagem será de Taís Araujo. E por pouco a atriz não perdeu o papel.

Em entrevista à IstoÉ Gente, durante coletiva de imprensa, a artista admitiu que cometeu um erro ao cogitar a possibilidade de negar o convite para viver a heroína emblemática da trama, que leva golpe da filha, Maria de Fátima (Bella Campos), logo no início do folhetim.

“Eu queria uma vilã, mas no primeiro capítulo em que assisti, pensei que não podia perder essa oportunidade. Ela tem uma jornada de herói, tem conflitos, é a personagem perfeita. Eu liguei para o Zé [José Luiz Villamarim, diretor de gênero] e para a Manu [Manoela Dias, autora] e falei: ‘Eu fui muito burra, eu quero fazer, sim, me deixa fazer, por favor’. Inverti os papéis!”, disparou ela, em tom de bom humor.

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Ao ser questionada sobre as comparações com a versão de 1988, a atriz disse que não se incomoda: “Comparação sempre vai existir, mesmo sendo histórias contadas de formas diferentes. Mas está sendo uma experiência muito prazerosa. Essa é a terceira ou quarta novela das 21h que faço, e acho que é a mais leve de todas”, garantiu.

Taís ainda deu a entender que haverá a cena icônica em que Raquel rasga o vestido de noiva de Maria de Fátima e adiantou a expectativa para esses momentos inesquecíveis da trama.

“A cena do vestido é legal de a gente ver, mas o mais importante que a gente conquistou é estar livre pra fazer homenagens na nossa primeira versão.”, encerrou.

Representatividade

Taís aproveitou o bate-papo para reforçar a importância da representatividade na nova “Vale Tudo”. Além de a história ser contada mais de 30 anos após a primeira versão, Raquel foi vivida por uma atriz branca naquela época. Segundo ela, ter uma intérprete negra no papel de agora, em 2025, trará uma nova percepção do público.

“É completamente diferente, e não é porque é minha ou pela Regina Duarte, é um a questão de mulher negra, existência no mundo, diferente da mulher branca. Parece que [a novela] foi escrita por uma mulher preta, pois tem mulher solo, que criou a filha. A Raquel que eu faço é uma homenagem e representação das mulheres que constroem esse país”, completou.

Manoela Dias concordou com Araujo e disse que Raquel sempre foi negra pelo contexto em que a história era inserida desde aquela época. Porém, o Brasil não estava preparado para enxergar isso.

“A função da dramaturgia é servir de ferramenta de transformação social. A gente conta a história para se divertir, mas a gente conta a história para estruturar essa teia de valores que sustenta a nossa sociedade. De 1988 para cá, a gente passou por um processo de letramento com relação ao machismo, racismo, classismo e etc”, disse.

“E a gente consegue ver hoje que, naquela época, só tinham dois atores pretos na novela. O nosso olhar era tão deformado também pelo racismo estrutural que era difícil até ver. Então, eu acho que, hoje em dia, a gente consegue ver, nomear.”

“A Raquel sempre foi preta, né? Ela era branca pela nossa incapacidade social, naquele momento, de perceber e de dar esse protagonismo também para uma atriz preta”, argumentou.

Como era difícil naquele momento e que bom que a gente, cada vez mais, entende e consegue realmente se ver, se construir, lutar por essa construção que tem que acontecer em todos os âmbitos.

Taís Araujo revela que quase desistiu de papel em 'Vale Tudo': 'Fui muito burra'

Taís Araujo e Regina Duarte na pele de Raquel Acyoli, em “Vale Tudo” – Divulgação/TV Globo