A Tailândia fará suas eleições legislativas em 24 de março, as primeiras desde o golpe de Estado militar de 2014 que derrubou o governo da primeira-ministra Yingluck Shinawatra.

“Em 24 de março será o dia das eleições”, declarou à imprensa um funcionário da Comissão Eleitoral poucas horas depois de o rei da Tailândia, Maha Vajiralongkorn, sancionar o decreto de convocação eleitoral.

Depois de adiá-las várias vezes, os militares anunciaram que as legislativas seriam em fevereiro. Com a assinatura tardia do decreto, a data teve de ser reprogramada para o mês seguinte.

O governo militar, ultramonárquico, pediu nesta quarta à Comissão Eleitoral que a data não fosse muito perto das cerimônias de coroação do rei, “um acontecimento histórico extraordinário” previsto para acontecer entre 4 e 6 de maio.

“O governo pede a todos os tailandeses que o ajudem a manter a ordem e a unidade durante as eleições”, acrescentou um comunicado.

As Forças Armadas vinham, nos últimos meses, abrindo caminho para a realização de eleições.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Em setembro passado, os partidos políticos foram autorizados a retomarem suas atividades e elegerem seus dirigentes. Em dezembro, puderam fazer campanha para as eleições que, segundo a Constituição, deveriam ser realizadas antes de 9 de maio.

O primeiro-ministro Prayut Chan-O-Cha, comandante em chefe das Forças Armadas, líder do golpe de Estado que instalou a junta militar no poder, ainda não revelou suas intenções políticas. Observadores concordam em que há muita possibilidade de que permaneça à frente do novo governo.

Em 2016, as Forças Armadas impuseram uma Constituição muito polêmica que incluiu um Senado totalmente indicado pelos militares com incidência sobre a nomeação do chefe de governo.

Foi um obstáculo para a oposição, em particular para o partido Puea Thai (Partido para os Tailandeses), que ganhou todas as eleições nacionais desde 2001, mas já não conta com seus dois principais líderes.

Yingluck Shinawatra, a primeira-ministra derrubada pela junta militar em 2014, e seu irmão Thaksin, que dirigiu o país de 2001 a 2006, buscaram exílio, após serem condenados em processos que classificaram como políticos.

Desde sua chegada ao poder, a junta militar promulgou uma nova Constituição, perseguiu a oposição e nomeou funcionários aliados em todos os escalões do governo. O objetivo era pôr fim à influência dos Shinawatra na cena política tailandesa.

Já Prayut Chan-O-Cha aproveitou seus quatro anos no poder para fazer campanha nas províncias rurais, sem uniforme militar, para ganhar o apoio de eleitores e de lideranças locais.

O premiê continua sendo impopular em muitos setores, que criticam a repressão realizada pela junta militar, assim como a censura e o pouco empenho na luta contra a corrupção.

“Pode-se chamar democracia híbrida”, disse o analista político Somjai Phagaphasvivat, da Universidade de Thammasat, ao se referir à nova Constituição, questionando que a junta militar tenha terminado as divisões políticas do passado.

Nas últimas eleições, realizadas em 2011, venceu Yingluck, a irmã mais nova do magnata Thaksin Shinawatra, à frente do partido Pheu Thai.

Existem dúvidas sobre a força eleitoral do Pheu Thai entre as camadas sociais mais pobres, nas zonas rurais do norte e do nordeste, sem a presença de seus líderes carismáticos.


Estamos “prontos” para as eleições, declarou a porta-voz do partido, Ladawan Wongsriwong.

“O Pheu Thai é um grande partido que tem a confiança dos eleitores em todo país”, acrescentou.

Nos últimos anos, a junta militar dizimou as redes dos “Camisas Vermelhas” partidários de Thaksin, e dezenas de dirigentes do Pheu Thai foram cooptados pelo partido Phalang Pracharat (Força Moral) vinculado às Forças Armadas.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias