A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, se tornou favorita no partido Democrata à sucessão do presidente Joe Biden, que desistiu de concorrer à reeleição, para enfrentar Donald Trump nas eleições em novembro.

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Diante da provável consolidação da cabeça de chapa, ainda restará aos democratas a definição do candidato ou candidata à vice-presidência. Segundo a agência de notícias AFP, os nomes que ganharam força nessa corrida são:

– Josh Shapiro, governador da Pensilvânia;

– Mark Kelly, senador pelo Arizona;

– Andy Beshear, governador do Kentucky;

– Roy Cooper, governador da Carolina do Norte.

Influência dos estados

Para Denilde Holzhacker, professora de relações internacionais da ESPM-SP (Escola Superior de Propaganda e Marketing), o potencial de desempenho da candidatura democrata nos chamados “swing states” (“estados pêndulo”, em tradução livre para português) deverá ter peso na escolha do vice, caso Harris seja oficializada como postulante à Casa Branca.

“Ela tem uma trajetória ligada à Califórnia, que tem uma base eleitoral progressista. O sucesso da candidatura [caso seja oficializada] depende de conexões com eleitores trabalhadores e de classe média, que são maioria nesses estados”, disse ao site IstoÉ.

“Josh Shapiro, Roy Cooper e Mark Kelly não nomes muito cotados”, disse Vitelio Brustolin, pesquisador na Universidade de Harvard e professor adjunto da Universidade de Columbia, ao site IstoÉ. “Trump liderava as pesquisas de intenções de voto [contra Biden] em todos os ‘swing states’, exceto Wisconsin. A força desses quadros nessas regiões de maior dificuldade do partido pode ser preponderante na escolha”, concluiu.

Mas o que são ‘swing states’?

“São estados em que não há uma maioria partidária definida, nem de democratas, nem de republicanos e, portanto, podem alterar a disputa em favor de determinado partido ou candidato a cada eleição”, disse Vitelio Brustolin.

Para ser considerado pendular, um estado precisa dar a vitória a um candidato democrata à Casa Branca em um pleito e, no seguinte, a um republicano — ou o contrário. Na prática, são regiões onde há alternância eleitoral.

“Nos ‘swing states’, há uma margem pequena de diferença entre os partidos e, por isso, eles são considerados pêndulos, porque se movimentam a cada eleição”, afirmou Holzhacker.

Esse fenômeno importa especialmente porque, no sistema bipartidário, é raro. Em 20 estados e na capital federal, Washington, um mesmo partido triunfou em todas as eleições presidenciais de 1988 a 2020. Nas unidades federativas restantes, há variações: o maior número de ‘swing states’ foi registrado em 1992 (22), quando Bill Clinton foi eleito, e o menor em 2012, na reeleição de Barack Obama (2).

Em 2020, quando Biden derrotou o então presidente Donald Trump, cinco estados “mudaram de lado” em relação à disputa anterior, vencida pelo republicano:

– Arizona;

– Wisconsin;

– Michigan;

– Pensilvânia;

– Georgia.

Há algo parecido no Brasil? 

“Há algumas similaridades com o que ocorreu em Minas Gerais nas últimas eleições”, afirmou Holzhacker. Em 2022, os mineiros deram maioria ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quatro anos depois de Jair Bolsonaro (PL) conquistar 58% dos votos no estado.

“No caso de Minas, no entanto, temos um perfil populacional heterogêneo. Em alguns dos ‘swing states’, a base social é muito mais homogênea no estado, mas muito distinta de outros centros políticos”, disse a professora. Para ela, isso faz com que a perspectiva de ter força nessas regiões seja um “fator muito importante” para a definição da candidatura democrata.

Mas o sistema que define o presidente eleito não é o mesmo, como destacou Vitelio Brustolin: “As eleições americanas são definidas por um sistema de colégio eleitoral, em que cada estado tem um peso de acordo com o número de delegados representantes, e não pela quantidade de eleitores”.

A capacidade de angariar doações também terá peso para a escolha do vice, segundo Holzhacker.

Vale lembrar que, nas semanas que antecederam a desistência de Biden, financiadores do partido “congelaram” suas contribuições ao comitê de arrecadação do presidente como um instrumento para pressioná-lo a desembarcar da disputa. Em 24 horas desde a desistência, doações direcionadas a Harris somaram US$ 81 milhões (R$ 450,3 milhões, na cotação atual).