O continente africano assiste com horror à Índia travar uma luta trágica contra o coronavírus e teme, no curto prazo, que as vacinas fabricadas naquele país acabem.

Muitas vezes chamada de a “farmácia do mundo”, a Índia é um dos maiores fornecedores da vacina da AstraZeneca no programa Covax – que promove a vacinação nos países mais pobres.

Mas a Índia está sendo atingida por uma explosão de infecções por covid-19, acelerada, de acordo com os cientistas, por uma nova variante.

Com mais de 1,3 bilhão de habitantes, registrou 22 milhões de infecções e cerca de 250.000 mortes.

Depois de ter enviado mais de 60 milhões de doses para o exterior, a Índia anunciou no final de março que estava adiando suas entregas para o exterior para atender às suas necessidades internas.

Os ministros da Saúde da União Africana (UA) realizaram uma reunião on-line no sábado (8) para discutir esta questão.

“A situação das vacinas é agora extremamente complexa por causa da situação na Índia”, disse o virologista camaronês John Nkengasong, diretor do Centro Africano para Prevenção e Controle de Doenças, órgão de vigilância sanitária da UA.

“Esperamos que as vacinas continuem a ser fornecidas pela Índia por meio do programa Covax, mas estamos observando com horror e incrédulos o que está acontecendo naquele país e não acreditamos que essas vacinas possam ser enviadas da Índia tão cedo”, adicionou.

Ao contrário de outros continentes, a África evitou o pior desta pandemia, com apenas 124.000 mortes e 4,6 milhões de infecções, de acordo com números oficiais.

Mas a África tem megacidades superlotadas – um verdadeiro terreno fértil para os vírus – e, ao mesmo tempo, hospitais e serviços de saúde em estado precário.

Até agora, o continente administrou 19,6 milhões de doses, ou seja, apenas 2% de sua população total.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 80% das doses foram injetadas nos países mais desenvolvidos do mundo.

Sem meios para fabricar vacinas, os países africanos têm de recorrer aos mercados, ou ao programa Covax.

Nkengasong exortou os líderes africanos a adotarem uma estratégia comum.

Enquanto isso, a variante indiana do vírus foi detectada em vários países africanos, incluindo Quênia, África do Sul e Uganda.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, defendeu que os países africanos mantenham a máxima vigilância e medidas de precaução contra a epidemia até que o problema da vacina seja resolvido.

“O que está acontecendo em muitas outras partes do mundo pode acontecer na África, se a guarda for baixada”, alertou o diretor-geral da OMS durante a reunião do órgão pan-africano.

“Em muitos países, o surgimento de variantes combinadas com o levantamento prematuro das restrições sanitárias e sociais, bem como a distribuição desigual de vacinas, estão tendo consequências trágicas”, disse ele.

A reunião ministerial da UE preconizou a manutenção rigorosa do distanciamento social, em um continente onde há uma certa resistência às vacinas.

A República Democrática do Congo anunciou, no final de abril, que havia “redistribuído” 1,3 milhão de vacinas AstraZeneca excedentes para os países vizinhos, reconhecendo que setores da população simplesmente se recusam a ser vacinados.