Os recentes casos de intoxicação por metanol em São Paulo têm preocupado boa parte da população do estado. Já são dez casos confirmados de contaminação pela substância, com uma morte. Outros cinco óbitos são investigados por suspeita de ingestão em bebidas adulteradas.
A maior suspeita é de que destilados como whisky, vodca e gin estariam sendo “batizados” com metanol, causando internações e óbitos por contaminação. Em entrevista à IstoÉ, o gerente médico do Pronto Atendimento do Hospital Sírio-Libanês, Luis Penna, reafirmou a fala do governo Lula (PT) — que encarou o cenário como “potencial surto” — e disse que a situação pode virar uma calamidade pública.
“Nós não sabemos o que está sendo adulterado, como foi adulterado e o quanto isso se disseminou para os bares. Isso pode virar uma calamidade pública”.
Segundo o médico, não há informação suficiente para definir a origem do problema e como combatê-lo. Uma alta no número de casos poderia sobrecarregar o sistema de saúde e prejudicar o atendimento.
“A gente não sabe o que está alterado, isso pode lotar os pronto atendimentos. E quando você tem um pronto atendimento lotado, os tratamentos ficam mais restritos e isso atrapalha a conduta médica para os casos graves”.
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Metanol pode ser confundido com ressaca e demanda ação rápida
Penna explicou que a intoxicação por metanol, inicialmente, se confunde com embriaguez comum, especialmente nas primeiras seis horas — isso porque ambos competem pelos mesmos receptores no fígado. Mas a ação do metanol é mais intensa e a intoxicação, causada com menor quantidade do que o álcool.
“A intoxicação por metanol ocorre com o passar das horas. Até seis horas após a ingestão da substância, há uma confusão com os sinais de embriaguez por álcool, é uma confusão que afeta inclusive a equipe médica”.
“Nas primeiras seis horas, os exames podem não vir tão alterados. O quadro inicial é de um paciente que ingeriu álcool, mas ele vai mudando com o passar das horas”.
A condição evolui para sintomas como perda de visão, confusão mental, dores de cabeça e abdominais intensas e vômitos, incomuns em casos de embriaguez.
Para garantir a identificação precoce, a equipe do atendimento de emergência pode submeter o paciente a um hemograma completo. “A preocupação principal é essa. A acidose metabólica [que vem depois] tem um tratamento muito complexo”, afirmou.
O médico destacou que a diálise é um tratamento eficaz para a acidose metabólica grave resultante. Além disso, antídotos como o fomepizol e o próprio etanol farmacêutico são utilizados para degradar o metanol e reverter o processo de acidose.
Momento é de ‘interromper consumo’
Como não há providências práticas além das investigações sobre adulteração de bebidas, o médico recomenda que a população pare de consumir destilados temporariamente.
“O ideal é que as pessoas evitem [o consumo de bebidas alcoólicas] até que os governos estadual e federal esclareçam como entrou, como ficou e o que aconteceu. Até essas respostas aparecerem, o que é certo é evitar, não consumir bebidas destiladas até se ter essa explicação”.
A dica do profissional condiz com as sugestões dadas pelo ex-Secretário Nacional do Consumidor e ex-Presidente do Conselho Nacional de Combate à Pirataria, Arthur Rollo, que em entrevista à IstoÉ afirmou que “todo tipo de estabelecimento oferece um risco ao consumidor” até a regularização do cenário.