04/07/2024 - 8:43
Uma multidão dança ao som de música eletrônica no fim de semana em uma boate de Xangai que reúne surdos e ouvintes, onde garçons anotam pedidos em linguagem de sinais.
Foi a segunda festa “BassBath” organizada por um grupo que busca aproximar culturas na grande metrópole do leste da China. “Este evento visa quebrar as barreiras entre surdos e ouvintes por meio da música e da linguagem corporal”, disse à AFP Alice Hu, artista surda e co-organizadora da BassBath.
A festa “permite que as pessoas surdas entendam a cultura auditiva e que as pessoas ouvintes entendam a cultura surda, promovendo a integração mútua”, explicou Hu.
As comunidades surdas criaram espaços semelhantes em outros países, mas na China eles são escassos, apesar dos esforços para melhorar a inclusão na educação e na vida cotidiana.
Na festa de sábado, arte animada e videoclipes com artistas de linguagem de sinais, como o rapper finlandês Signmark, foram projetados nas paredes da boate.
Cartazes distribuídos pelo local ensinavam aos participantes versões de palavras como “sonho” e “dança” na linguagem de sinais chinesa, enquanto dançarinos profissionais surdos exibiam sua arte.
Os DJs tocavam músicas escolhidas por seus ritmos contagiantes e graves profundos, para que parecessem vibrações. Hu liderou o grupo em um jogo no qual os participantes mudavam seus passos de dança dependendo das palavras que ela sinalizava.
Para Xiaozhou, de 34 anos, a festa de sábado foi a primeira vez que saiu para dançar.
“Espero ter algumas trocas com amigos e que nos divirtamos, que sejamos felizes juntos”, disse Xiaozhou, que pediu para ser identificado por esse apelido.
Hu Jingqi, de 68 anos, é a pessoa mais velha no local. Ela movia as mãos ao som da música no meio de um círculo de dançarinos décadas mais jovens e vestidos com roupas brilhantes.
Hu Jingqi também participou da festa de inauguração da BassBath, em maio.
“Foi uma loucura, todo o ambiente era maravilhoso e muito animado”, disse sobre sua primeira experiência na festa. “Gostei muito da atividade, tanto que esqueci alguns desconfortos que tenho”, contou à AFP.
Para Alice Liu, uma ouvinte que está aprendendo língua de sinais, o evento foi uma janela para a rica cultura da comunidade surda, que muitas vezes é relegada ao resto da sociedade.
Liu comentou que soube do evento em uma aula de linguagem de sinais ministrada por Alice Hu, da BassBath. “Eu costumava acreditar em alguns estereótipos, sentia que (os surdos) só iam a determinados lugares ou que não estavam dispostos a interagir com outras pessoas”, disse Liu à AFP.
“Ouvia dizer que existem alguns dançarinos surdos talentosos, mas não entendia como eles conseguiam dançar”, acrescentou.
Jia-yue Ding, outro organizador da BassBath, afirmou que a sociedade está “muito focada em pessoas válidas”.
“Mas, na verdade, se você sair um pouco dessa (mentalidade), todos são iguais e todos podem ser amigos e se divertir juntos”, disse Ding à AFP.
“Há poucas oportunidades para pessoas surdas e ouvintes terem conexões profundas, por isso esperamos que um evento como este ajude as pessoas a se verem e a compreenderem umas às outras”, acrescentou.
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