Desafeto da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, o subprocurador da República, Moacir Guimarães Morais Filho, entrou nesta quinta-feira 8 com uma representação contra o principal assessor de Raquel, o procurador Alexandre Camanho. Moacir pede à Corregedoria do Conselho Nacional do Ministério Público que investigue o secretário-geral da PGR, Camanho, homem de confiança de Raquel Dodge. ISTOÉ teve acesso exclusivo à representação. O motivo do pedido de investigação foi a troca de mensagens telefônicas “atípicas” entre Camanho e o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (MDB-SP), conhecido como o “homem da mala”. Ligado ao presidente Michel Temer, Rocha Loures foi alvo de uma ação da Polícia Federal, que o flagrou recebendo uma mala com R$ 500 mil, fruto de propina paga pelos executivos da JBS. A ação que flagrou Loures foi motivada pela delação premiada do empresário Joesley Batista.

O nome de Camanho surgiu no inquérito dos Portos, que investiga o presidente por suposto recebimento de propina para produzir um decreto que beneficiava empresas do setor, especialmente a empresa Rodrimar. Na investigação, surgiu a troca de mensagens entre o secretário-geral da PGR e o ex-deputado. Nas mensagens analisadas pela PF, Camanho e Rocha Loures tratam da futura composição do governo Temer (MDB) às vésperas do afastamento de Dilma Rousseff (PT) em maio de 2016.

Em outro diálogo, também incluído no relatório da PF, Camanho se oferece para sondar o ex-ministro das Relações Exteriores no governo Fernando Collor e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a possibilidade de ele vir a assumir um posto no novo governo. Na conversa, o próprio Camanho indicava Rezek como possível ministro da Justiça. “Se o presidente quiser, posso fazr uma sondagem preliminar para que ele não corra riscos. Fui assessor dele (Rezek) no STF e somos amigos pessoais”, escreveu o auxiliar de Dodge na mensagem para Rocha Loures.

O relatório da PF com a existência de “contatos atípicos” entre Camanho e Rocha Loures traz ainda um fato que pode motivar a abertura de uma investigação no CNJ sobre a conduta do secretário-geral. Ele teria se oferecido ao deputado para intermediar uma conversa de Temer com os “meninos da Lava Jato”. Termo usado para se referir aos procuradores que integram a força-tarefa da operação. Mas a própria PF revela que a tentativa acabou não se concretizando, porque os colegas recusaram.

Ao ser questionada na época sobre a conduta do auxiliar, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, não quis comentar o assunto. Segundo Moacir, ela decidiu não abrir investigação e nem denunciar o colega. O fato teria sido comemorado por Camanho. Moacir conta que recebeu em seu e-mail institucional uma nota de agradecimento do secretário-geral agradecendo a solidariedade sobre “fatos noticiados na mídia escrita eletrônica, envolvendo o seu nome com o ex-deputado Rocha Loures”.

No requerimento, Moacir usou a mensagem para fazer um desabafo: “Pela gravidade dos fatos, não emprestei nenhuma solidariedade ao procurador regional da República Alexandre Camanho. Ao contrário, venho solicitar providências dessa Corregedoria para apuração dos fatos noticiados na mídia”, argumentou.