Em dezembro de 2020, a China inaugurou seu “sol artificial”, um reator nuclear capaz de alcançar temperaturas até 10 vezes mais altas que a do astro-rei para gerar energia a partir da fusão nuclear. No mesmo mês, os chineses anunciaram na revista Science a conclusão de um computador quântico que realiza tarefas até 100 trilhões de vezes mais rápido que o supercomputador mais veloz do mundo, o japonês Fugaku, e mais potente do que o Sycamore, o protótipo quântico que está sendo desenvolvido pelo Google, nos Estados Unidos. Além do sol artificial e do supercomputador, estão sendo desenvolvidas tecnologias sofisticadas para telecomunicações como a 5G, inteligência artificial, modernos semicondutores, a criação de uma rede quântica e já foram iniciadas até expedições espaciais, levando uma sonda para explorar o lado escuro da Lua.

Por trás de todas essas ações está um grande plano denominado “Made in China 2025”. Traçado há cinco anos pelo governo chinês, ele visa acabar com a defasagem tecnológica do país em relação ao Ocidente e levar os chineses a uma posição dominante em setores fundamentais da economia. É uma indicação clara de que os asiáticos querem deixar de ser apenas a “grande fábrica” do mundo para se tornar um dos maiores desenvolvedores globais de tecnologia. Isso inclui investimentos pesados em inovação em setores como biotecnologia, robótica, tecnologia aeroespacial e automotiva, baseados em energia limpa.

SALTO TECNOLÓGICO China anuncia supercomputador quântico, que realiza tarefas até 100 trilhões de vezes mais rápido, e envia sonda espacial para explorar a Lua

“Com a concretização desse plano, poderemos esquecer aquele país que só produzia quinquilharias sem qualidade ou cópias fajutas e vislumbrar um competidor de peso em vários setores”, diz a advogada Maria Crepaldi, sócia do Costa Tavares Paes Advogados. Acompanhando clientes brasileiros na China e chineses que querem investir no Brasil, ela diz que percebeu uma mudança flagrante na qualidade e na firmeza dos propósitos. “Tivemos um cliente que comprou uma máquina industrial com alta qualidade e que foi instalada remotamente pelos chineses em quase metade do tempo que os concorrentes europeus”, explica. De acordo com Antonio Tavares Paes, também sócio do Costa Tavares, muitos chineses foram estudar fora e voltaram para casa aplicando os conhecimentos. “Assim, eles evoluíram muito e num curto espaço de tempo”, diz.

Thomas Peter

Tensão comercial

Para o CEO do Lide China e especialista em mercado chinês, o advogado José Ricardo dos Santos Luz Júnior, o avanço da China em tecnologia está sim contemplado no “Made in China 2025”. “Mas é preciso frisar que bem antes disso, os chineses já estabeleciam planos de metas quinquenais e, assim, nas últimas seis décadas, a cada cinco anos, o governo estabelecia novos objetivos, que eram rigidamente implementados”, explica Luz Júnior, que viveu na China por alguns anos. Segundo ele, em todos os planos quinquenais, o investimento em inovação sempre esteve presente, chegando hoje à marca de 2,3% do PIB chinês. “O resultado é isso que estamos assistindo agora”.

E o Brasil não fica de fora dos planos das empresas chinesas de tecnologia. Depois da Xiaomi e Huawei, quem desembarcou no País foi a fabricante de smartphones Realme, que trouxe na bagagem celulares com alta tecnologia a preços competitivos. O plano da empresa, que briga pela liderança em mercados como Índia, Filipinas e Indonésia, é ousado: estar entre as três maiores vendedoras de celulares no País em cinco anos. Isso permitiria instalar no Brasil uma fábrica de aparelhos, segundo a diretora de marketing da Realme Brazil, Crystal Gong.

Mas tanto empenho por parte dos chineses para conquistar a supremacia tecnológica, no entanto, elevou a temperatura das conversas com americanos e europeus nos últimos dois anos. Especialmente porque Pequim permite investimentos de empresas chinesas no setor de tecnologia nos EUA e na Europa, mas, ao mesmo tempo, restringe o acesso ao seu próprio mercado. Acusações reiteradas de roubo de propriedade intelectual levaram o presidente Donald Trump a impor tarifas aduaneiras às mercadorias chinesas em cerca de US$ 50 bilhões, com ameaças de adicionar outros US$ 200 bilhões. Agora é esperar para ver se a China vai conquistar o mundo facilmente ou o “império americano” vai contra-atacar para se defender.