Foi um dos casos não resolvidos mais notórios dos Estados Unidos: estupros sádicos e assassinatos que aterrorizaram a Califórnia entre 1976 e 1986.

Apenas nessa semana que o suposto responsável foi preso e acusado na quinta-feira em uma corte de Sacramento, capital deste estado da costa oeste dos Estados Unidos.

O chamado “Golden State Killer” (assassino do estado Dourado, como a Califórnia é chamada) ou James DeAngelo, de 72 anos, um ex-policial e veterano de guerra, compareceu ao tribunal nesta sexta-feira em uma cadeira de rodas, algemado e vestindo o macacão laranja de presidiário.

DeAngelo foi acusado pelo homicídio de Katie e Brian Maggiore, em 1978, na localidade de Rancho Cordova, na região de Sacramento.

Uma nova audiência está prevista para 14 de maio.

DeAngelo apareceu no tribunal escoltado por cinco agentes e parecia sonolento, com dificuldade para manter os olhos abertos.

“Tenho um advogado”, respondeu DeAngelo com voz fraca quando o juiz Michael Sweet lhe perguntou sobre quem lhe representaria no julgamento.

Segundo a imprensa americana, ele está na ala psiquiátrica da prisão, sob vigilância por risco de suicídio.

Segundo a procuradora do condado de Sacramento Anne Marie Schubert, “houve mais de 50 estupros, 12 assassinatos, crimes que abarcaram 10 anos em pelo menos 10 condados diferentes” ligados a DeAngelo.

Além dos homicídios de Katie e Brian Maggiore, o ex-policial enfrentará no futuro mais acusações em Sacramento e nos condados de Orange e Ventura, onde o procurador Gregory Totten pedirá a pena de morte.

O último caso registrado, segundo o FBI, foi em maio de 1986, com o estupro e assassinato de uma jovem de 18 anos em Irvine, 680 km ao sul da capital do estado.

E desde então se passaram 32 anos com DeAngelo fora do radar das autoridades.

Os testes de DNA foram determinantes para encontrar o assassino.

O jornal Sacramento Bee informou que os investigadores compararam o DNA coletado na cena de um crime com perfis disponíveis em sites genealógicos que analisam mostras de gente curiosa sobre sua ascendência.

Explorando as árvores genealógicas, os investigadores encontram DeAngelo através de familiares distantes.

Essa pista levou os investigadores à casa de um homem mais velho, que teria vivido em um subúrbio de Sacramento, área de muitos ataques.

Eles decidiram comparar a amostra com DNA do acusado.

“Conseguimos obter uma amostra de DNA de um objeto descartado e confirmamos o que já sabíamos, que achamos o homem”, disse o xerife de Sacramento, Scott Jones, na quarta-feira quando anunciou a prisão junto com Schubert.

Tudo foi muito rápido, o resultado chegou na segunda-feira à noite e na terça-feira foi feita a prisão.

Surpreso, o idoso não ofereceu resistência.

Outro estuprador de Sacramento, Derek Sanders, foi preso em 2014 também graças a uma amostra de DNA.

– “Não grite” –

As autoridades confirmaram que o acusado foi oficial da polícia, mas pouco se falou sobre a vida deste homem que permaneceu impune por mais de 40 anos e cujos supostos crimes inspiraram o livro de Michelle McNamara “I’ll Be Gone in the Dark”, que foi publicado este ano, despertando novo interesse pelo caso.

DeAngelo parece ter passado a maior parte de sua vida em Sacramento, onde cursou o Ensino Médio e estudou Direito Penal na universidade. Também integrou a Marinha dos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã.

Entre 1973 e 1976 serviu como oficial de polícia em Exeter, uma cidade ao sul de Sacramento e perto de Visalia, onde suspeita-se que cometeu vários crimes. Em 1976 foi para a polícia de Auburn, onde foi demitido três anos depois por furtar um martelo e uma lata de repelente.

A faixa etária de suas vítimas foi de 13 e 41 anos. O primeiro estupro registrado foi em 1976, quando invadiu a casa de uma menina enquanto ela dormia na ausência de seu pai.

“Ele usava uma máscara de esquiar”, contou a vítima em uma gravação divulgada pelo FBI há dois anos em uma tentativa de reviver o caso. “Ele subiu na cama e tinha uma faca (…) me disse algo do tipo ‘não grite'”.

Segundo Bee, DeAngelo trabalhou desde 1989 até o ano passado como mecânico de caminhões no depósito de uma rede de supermercados.

Jason Calhoon, colega por 27 anos, o descreveu como um sujeito “normal”, como fizeram vários de seus vizinhos no subúrbio de Citrus Heights.