Desde o começo do conflito entre Israel e o Hamas, universidades americanas prestigiadas têm sido alvo de críticas por não fazerem o suficiente para combater o antissemitismo em seus campi.

A polêmica já custou o posto da reitora de uma universidade, e observadores alertam que poderia repercutir na liberdade de expressão dentro das faculdades.

Segue abaixo um resumo dos acontecimentos:

Qual é a situação atual?

Após uma presença tensa no Congresso na semana passada, parlamentares e doadores pediram a renúncia da reitora de Harvard, Claudine Gay, que conseguiu permanecer no cargo após o órgão dirigente da instituição renovar sua confiança nela.

A reitora do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), Sally Kornbluth, também recebeu o apoio de sua instituição. Já Elizabeth Magill, reitora da Universidade da Pensilvânia (UPenn), foi pressionada a renunciar.

As três haviam sido convocadas no último dia 5 por uma comissão parlamentar cujo objetivo era “fazê-las prestar contas” após “inúmeras manifestações antissemitas”.

Como foi a audiência?

As três reitoras foram bombardeadas com perguntas sobre como suas instituições pretendiam combater o antissemitismo. As principais discussões surgiram de perguntas da deputada de direita Elise Stefanik, que comparou os apelos de alguns estudantes por uma “intifada” – termo árabe que significa “revolta” – a uma incitação a um “genocídio contra os judeus”.

Quando Elise perguntou se “pedir o genocídio dos judeus viola a política de assédio de Harvard”, Claudine respondeu: “Pode violar, dependendo do contexto. Se for dirigido a uma pessoa”.

Preocupadas em não infringir os direitos da liberdade de expressão e em respeitar as políticas de conduta de suas instituições, as três autoridades limitaram-se a respostas legalistas. “Se o discurso se transforma em conduta, pode ser assédio”, respondeu Elizabeth Magill, da UPenn, à mesma pergunta. “É uma decisão que depende do contexto”.

Sally Kornbluth disse que não ouviu “apelos ao genocídio dos judeus” em seu campus. “Ouvi cânticos que podem ser antissemitas, dependendo do contexto. Isso seria investigado como assédio se fosse generalizado e severo”, acrescentou, ressaltando que era judia.

O que dizem os especialistas?

As respostas geraram protestos, mas especialistas e acadêmicos afirmam que o trio tem razão. “O contexto importa”, escreveram Eugene Volokh, professor de direito da Ucla, e Will Creeley, diretor jurídico da Fundação para os Direitos e a Expressão Individual, no “Los Angeles Times”.

“Convocar uma intifada durante uma passeata pacífica costuma ser uma expressão política protegida. Mas, em um contexto diferente, um canto de intifada poderia ser uma ameaça real, caso, por exemplo, alguém o dissesse a um estudante israelense-americano e avançasse de forma ameaçadora em sua direção durante um protesto violento”.

Para Jenna Leventoff, da União Americana pelas Liberdades Civis, “os princípios da liberdade acadêmica exigem que as instituições de ensino superior defendam todo discurso protegido, mesmo quando esse discurso for polêmico ou ofensivo”.

O professor de ciência política de Harvard Ryan Enos acredita que “os conservadores querem acabar com a liberdade de expressão nos campi. E já conseguiram silenciar, em certa medida, as vozes pró-palestinas”.

Laurence Tribe, professor emérito da Faculdade de Direito de Harvard, adotou uma outra linha: “Até mesmo as tentativas de ‘esclarecimento’ por parte das reitoras dessas universidades mostraram o quão facilmente a busca pelo politicamente correto pode superar a sabedoria e a coragem”.

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