Mais de 100 mulheres obrigadas a trabalhar como prostitutas para os soldados americanos mobilizados na Coreia do Sul iniciaram uma ação sem precedentes na qual acusam Washington de abuso e exigem um pedido de desculpas, informaram os advogados nesta terça-feira.
Historiadores e ativistas afirmam que dezenas de milhares de sul-coreanas trabalharam em bordéis autorizados e administrados pelo Estado entre as décadas de 1950 e 1980, prestando serviços às tropas americanas enviadas ao país para protegê-lo da Coreia do Norte.
As mulheres denunciaram que eram agredidas e ficaram com danos psicológicos.
Em 2022, a Suprema Corte da Coreia do Sul decidiu que o governo havia “estabelecido, administrado e operado” ilegalmente os prostíbulos para o Exército dos Estados Unidos e ordenou o pagamento de uma indenização para quase 120 demandantes.
Na semana passada, 117 vítimas apresentaram uma nova ação, desta vez acusando diretamente o Exército dos Estados Unidos e exigindo um pedido de desculpas pela primeira vez.
“Ainda não consigo esquecer de ter sido espancada por soldados americanos”, declarou uma das demandantes, de quase 60 anos e que não revelou seu nome, em um comunicado enviado à AFP.
Ela disse que tinha apenas 17 anos quando foi enganada para aceitar o trabalho: pensava que seria garçonete, mas foi forçada a trabalhar como prostituta e foi informada de que não poderia sair devido à sua “dívida”.
“Todas as noites éramos arrastadas até os soldados americanos e abusadas sexualmente. Todas as semanas, éramos obrigadas a fazer exames para doenças venéreas. Se houvesse qualquer coisa anormal, éramos trancadas em um quartinho e injetavam uma agulha grossa de penicilina muito forte”, disse.
Em uma declaração conjunta, ativistas pelos direitos das mulheres afirmaram que o Exército americano “ignorou a Constituição sul-coreana”, privou as demandantes de sua liberdade pessoal e “destruiu suas vidas”.
A ação judicial solicita uma indenização de 10 milhões de wons (7.200 dólares, 39.000 reais) por vítima.
“Esta ação pretende responsabilizar tanto o governo sul-coreano como as autoridades militares americanas conjuntamente”, afirmou a advogada Ha Ju-hee à AFP.
O Exército dos Estados Unidos mantém 28.500 soldados na Coreia do Sul para proteger o país da vizinha Coreia do Norte, que possui armas nucleares.
As Forças Armadas dos Estados Unidos na Coreia (USFK) anunciaram que “não farão comentários enquanto o processo judicial estiver em curso”.
“Afirmamos que não toleramos qualquer comportamento que viole as leis, normas ou diretrizes da República da Coreia, e seguimos comprometidos com a manutenção dos mais elevados padrões de ordem e disciplina”, afirmaram.
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