Perda de interesse por atividades prazerosas ou compromissos, descuido com a própria higiene e conversas em tom de despedida devem acender o alerta para familiares e amigos

 

Por Cristiane Santos, da Agência Einstein

 

Aproximadamente 800 mil pessoas morrem por suicídio por ano em todo o mundo, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, 14 540 pessoas tiraram a própria vida só em 2019, o que equivale a 39 óbitos por dia, quase dois por hora. Entre idosos, os números são ainda mais alarmantes. O último relatório epidemiológico sobre o assunto no país foi publicado pelo Ministério da Saúde em 2017. Ele mostra que, enquanto a taxa geral de suicídio entre os brasileiros é de 5,8 para cada 100 mil habitantes, entre pessoas com mais de 70 anos, ela sobe para 8,9 por 100 mil habitantes.

“É um dado preocupante do ponto de vista social. Que tipo de sociedade oferece ao idoso o suicídio como destino? Que tipo de sociedade permite que o idoso, depois de uma vida inteira dedicada ao trabalho e à família, sinta-se um estorvo?”, questiona a psicóloga especializada em suicídios e professora da Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul, Cláudia Weyne Cruz.

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Ela explica que o suicídio, apesar de ter múltiplas causas e se manifestar de forma individual, pode ser determinado por questões sociais.

“Quando as pessoas ficam mais velhas, elas vão acumulando perdas: do cônjuge, dos amigos, do trabalho e dos papeis sociais”, diz a psicóloga. Outras questões, como adoecimento, dor crônica, dificuldade de acesso a medicamentos, perda de autonomia por doenças incapacitantes, maus tratos, apropriação do dinheiro e bens do idoso e quadros prévios de depressão ou de outros transtornos mentais aumentam as chances de um idoso tirar a própria vida.

A psicóloga afirma que amigos, parentes e vizinhos de idosos devem estar atentos a comportamentos que podem indicar a intenção de suicídio, como a desistência de atividades prazerosas, perda de interesse por compromissos sociais, verbalização de que já cumpriu a missão na vida ou de que não quer mais viver, descuido com higiene pessoal, doação dos seus pertences, conversas em tom de despedida ou ainda afirmações claras da intenção de tirar a própria vida.

“Não podemos achar que essas atitudes são só para chamar a atenção”, diz Cláudia.

Nem sempre, porém, os sinais são tão explícitos — por isso a importância de ouvir o idoso e acolhê-lo em suas queixas e angústias. “O suicídio é multifatorial e os sinais de que ele pode ocorrer não estão sempre claros. Conversar é a melhor solução”, diz João Batista, voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV).

Neste Setembro Amarelo, mês de prevenção do suicídio, o tema da campanha promovida pela organização é justamente a importância de falar sobre o tema.

“Estar disposto a ouvir e prestar atenção nas pessoas são as melhores formas de prevenção. Isso pode mudar a vida de alguém”, avalia Batista, que atua no centro há 21 anos. Ele dedica quatro horas semanais do seu tempo para oferecer apoio emocional às pessoas que ligam para o número 188. As ligações são gratuitas e sigilosas. Quem disca escolhe o tema da conversa e a duração dela.

“São pessoas que precisam desabafar, dividir com alguém que não vai julgar ou fazer críticas, que vai acolher. Algumas passam muito tempo conversando. Outras ligam só para saber que a gente existe”, conta.

Como a ideação suicida costuma estar relacionada a quadros de transtornos mentais, como depressão, é essencial buscar acompanhamento psicológico e psiquiátrico quando aparecerem alguns dos sinais de alerta.

No ano passado, os 4 200 voluntários do CVV no país prestaram 3,24 milhões de apoios emocionais por telefone, e-mail, chat ou pessoalmente. Se a média mensal de 276 704 atendimentos realizados entre abril e junho deste ano for mantida, a previsão é que 2021 feche com 3,32 milhões de contatos feitos.

Cláudia ressalta que reduzir a incidência de suicídios entre idosos também depende de mudanças em como a sociedade lida com o envelhecimento.  “Isso envolve várias questões culturais e a luta por direitos. Só assim conseguiremos reduzir esse número”, defende.


Segundo a especialista, entre as ações coletivas que podem prevenir o suicídio nesse grupo estão a oferta de serviços de saúde de qualidade e um maior investimento na promoção do envelhecimento ativo, com ações e políticas que permitam a manutenção do papel social, econômico e político do idoso.

(Fonte: Agência Einstein)

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