A história de Neto Nunes, faixa-preta de Jiu-Jitsu, é de superação, resiliência e a prova que a arte suave vai muito além de uma modalidade esportiva. A arte marcial salvou e transformou a vida dele em algumas oportunidades. Primeiro, quando ainda era um adolescente em São José do Rio Preto (SP), em 1999, e conheceu o professor Henrique Lima – que é o seu mestre até hoje. Naquele momento, ele tinha acabado de perder o pai que morreu após um acidente de caminhão. O jovem se viu diante de uma tristeza profunda e junto ao fato de sofrer bullying na escola, decidiu procurar uma escola de artes marciais, mas optou pelo Taekwondo, já que sabia pouco sobre Jiu-Jitsu e as aulas tinham um preço elevado – fora do seu orçamento.

Um amigo de Neto o apresentou ao professor Henrique e a paixão pela arte foi imediata: – No meu primeiro dia de treino, eles falaram que eu era talentoso, a partir daquele momento, minha vida tomou outro rumo. Eu vivia dentro da academia, meu professor me acolheu e entrou no lugar do meu pai, porque foi algo difícil pra mim. Ficava o dia todo na academia – relembrou Neto, que chegou a competir no Brasil até a faixa-roxa.

Ainda jovem, se mudou para Europa em 2003. Neto tinha como destino Londres, na Inglaterra. Após uma parada em Paris, na França, o lutador pegou um trem rumo ao Reino Unido, mas foi barrado pela imigração. Ele não tinha dinheiro, não falava outra língua e nem conhecia ninguém.

– Nessa época, fora do Brasil praticamente não existia Jiu-Jitsu. Eu acabei virando morador de rua em Paris. Demorou quatro meses para eu encontrar uma academia e tudo mudar de novo. Era uma filial da Nova União, eu não sabia que tinha em Paris. Me tiraram da rua, me deram abrigo, me acolheram de braços abertos. Até hoje sou muito amigo de todos. O Jiu-Jitsu, mais uma vez, salvou a minha vida – contou.

Neto conseguiu pegar a faixa-marrom, depois a faixa-preta, mas vendo o Jiu-Jitsu apenas como um hobby, não mais como peça fundamental da sua vida. Após se estabilizar na Europa, chegou a alternar entre meses em Londres e períodos no Brasil, quando trabalhou de caminhoneiro – assim como o pai. No entanto, ele acabou tomando decisões erradas e, como o próprio descreveu, “chegou ao fundo do poço” e “perdeu tudo”.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Aos 30 anos, mais uma vez, o Jiu-Jitsu o salvou. Com filho pequeno e sem o apoio de praticamente ninguém, apenas da esposa, Neto foi em busca do sonho de viver do Jiu-Jitsu: – Eu sentia muita falta do Jiu-Jitsu, tinha o sonho de viver só do Jiu-Jitsu. Eu já tinha perdido tudo na vida, estava com 30 anos de idade, não tinha estudo. Não tinha nada a perder e nem outra opção. Eu só tinha o Jiu-Jitsu. Voltei a treinar intensamente, ninguém acreditava, mandavam eu arrumar um emprego. Foi uma luta voltar a treinar, competir, várias lesões. Só a minha esposa e eu acreditamos – narrou Neto, que seguiu comentando sobre o início do empreendimento na Inglaterra:

– Começou com um quartinho de 6m², juntou 15 e 20 alunos por seis meses, depois fui para um porão de uma pizzaria, que era um espaço um pouquinho maior. Foi enchendo, ficamos um ano ali. O dono colocava o aluguel muito caro. Achei um lugar maior, em uma localidade horrível. Era aquilo, ou ia parar. O porão era abafado e até por uma questão de segurança não dava para ficar. Mas, nesse novo local, era muito ruim, não consegui crescer. Depois de tantas lutas, Deus me abençoou com esse espaço novo. É uma das melhores academias de Londres, se não a mais completa – concluiu o proprietário da The Gauntlet Fight Academy.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias