O mundo inteiro ficou atordoado com a explosão gigantesca causada por uma substância estocada em condições precárias num armazém portuário em Beirute, no Líbano. Passado o susto, muitas questões ainda se levantam sobre o potencial explosivo do nitrato de amônio. Especialmente no Brasil, que é um dos maiores produtores agrícolas e um usuário intensivo do produto em suas lavouras. A preocupação é grande, em especial quando se sabe que só no Porto de Santos existe até 10 vezes mais quantidade do produto do que havia no Líbano, conforme levantamento recente. Hoje, o consumo brasileiro chega a 1,9 milhão de toneladas de nitrato de amônio por ano. Deste total, 500 mil toneladas são produzidas no País e 1,4 milhão de toneladas são importadas, a maior parte da Rússia.

Conforme dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), o nitrato de amônio é muito usado na elaboração de fertilizantes porque contém o nitrogênio na forma nítrica e amoniacal, que é menos volátil e, assim, menos agressiva ao meio ambiente. A substância é a preferida nas plantações de cana, combinada com fósforo e potássio, conhecido NPK. “Assim como os humanos precisam se alimentar, as plantas precisam de nutrientes para crescer. E o nitrogênio, o fósforo e o potássio são essenciais”, explica Renato Tavares, diretor de projetos da norueguesa Yara, uma das maiores fabricantes de fertilizantes do mundo e que produz nitrato de amônio em Cubatão, na Baixada Santista. Apesar de inofensiva em condições normais, a substância exige cuidados. Ela não pega fogo sozinha e é considerada bastante estável. Exige apenas algumas regras de manuseio e armazenamento, para não ficar exposta a altas temperaturas, uma vez que a 200 graus centígrados ela pode explodir, como aconteceu no Líbano.

Poder de fogo

A potência do nitrato de amônio o coloca também como item fundamental na indústria de explosivos civis, para detonações de rochas e outros usos. Essa indústria, segundo a ANDA, utiliza boa parte do que é importado. Mas o controle é alto. Além de registro no Exército, a empresa autorizada a trabalhar com nitrato passa também por uma fiscalização de seus armazéns, que têm regras rígidas de estocagem em locais longe de fios elétricos, madeira ou qualquer produto que possa gerar fogo. O composto é fundamental também como matéria-prima para fabricação de gases anestésicos e tratamento de esgotos. Seja qual for sua utilização, porém, todo cuidado é pouco.