Frederico Cursino, da Agência Einstein

“Se você quer se sentir melhor, subir escadas com mais frequência pode ajudar”. O conselho da psiquiatra Heike Tost vai além de uma força de expressão. A professora do Instituto de Saúde Mental de Mannheim, na Alemanha, é uma das autoras do estudo que demonstrou, pela primeira vez, o papel determinante das tarefas rotineiras na saúde e no bem-estar.

Definida pelos pesquisadores como “atividades sem exercício”, essas tarefas incluem situações que demandam certo esforço – como andar até o metrô ou limpar casa –, porém não são tão exaustivas nem consomem tanto tempo quanto os exercícios físicos normais. O estudo alemão trouxe ainda evidências de que, além de melhorar a qualidade de vida, essas pequenas atividades são especialmente benéficas para pessoas suscetíveis a transtornos psiquiátricos.

Segundo o artigo publicado no periódico Science Advances, isso acontece por duas razões. Primeiro, a execução dessas tarefas aumenta a atenção e gera mais energia do corpo. Também foi constatado que as “atividades sem exercício” estimulam o funcionamento de uma parte do córtex cerebral chamada córtex cingulado subgenual. Essa região é responsável pela interação entre a atividade cotidiana e o bem-estar afetivo e participa do processo de regulação das emoções.

Os pesquisadores observaram ainda que mesmo o bem-estar sentido após a prática de exercícios normais seria, na verdade, um efeito das atividades rotineiras.

“Encontramos uma associação significativa das ‘atividades sem exercício’ nas sensações de energia, porém, nenhuma influência do exercício físico no estímulo energético. Isso mostra que os efeitos positivos momentâneos das atividades físicas na vida cotidiana são, de fato, motivados por ‘atividades sem exercício’”, descrevem os autores.

O estudo, que contou também com a participação de cientistas do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe (KIT, em inglês), foi dividido em duas etapas.

Na primeira, 67 indivíduos foram submetidos, por sete dias, a avaliações ambulatoriais que determinaram o impacto das atividades diárias em seus estados de atenção. A equipe verificou que, logo após essas atividades, as pessoas se sentiam mais alertas e tinham mais energia. Ambos os fatores se mostraram componentes importantes para o bem-estar e a saúde psíquica. Participantes nessas condições relataram maior senso de coerência, satisfação com a vida, otimismo e autoeficiência, além de ter a ansiedade reduzida.

A segunda etapa investigou 83 pessoas, que passaram por exames de tomografia de ressonância magnética. O objetivo foi medir o volume da massa cerebral cinzenta para descobrir quais áreas do cérebro desempenham um papel nesses processos diários. Observou-se que aqueles com o córtex cingulado subgenual maior estavam mais carregados de energia mesmo em períodos de inatividade.

Já as pessoas com menor volume de massa cerebral cinzenta nessa região e com maior risco de transtornos psiquiátricos se sentiam com menos energia enquanto sedentárias. “Por outro lado, quando exerciam atividades rotineiras, essas pessoas se sentiram ainda mais cheias de energia do aqueles com um volume cerebral maior”, relata Heike.

As análises de controle mostraram que, assim como na primeira etapa do estudo, estes últimos resultados foram específicos para “atividades sem exercício”: “O mapeamento da intensidade total das atividades físicas levou a um resultado nulo, ou seja, não houve associação significativa da intensidade total da atividade física com o volume de substância cinzenta do cérebro dentro da região analisada, fortalecendo, assim, o fato de que este é um papel específico da ‘atividade sem exercício’”, escreveram os pesquisadores.

A publicação acrescenta que, futuramente, essas descobertas poderão ser usadas em um aplicativo de smartphone que estimulará os usuários a praticar mais atividades caso seja constatada uma redução de energia. Os pesquisadores pretendem ainda investigar como esses resultados podem ajudar a prevenir e a tratar distúrbios psiquiátricos.

(Fonte: Agência Einstein)

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