Stormy Daniels, a ex-atriz pornô no centro do caso que levou Donald Trump a ser considerado culpado de fraude contábil em um julgamento criminal, pediu a prisão do ex-presidente e atual candidato republicano à Casa Branca, em entrevista publicada na imprensa britânica.
“Acho que ele deveria ser condenado à prisão e a algum serviço comunitário, trabalhando para os menos favorecidos, ou sendo saco de pancadas voluntário em um abrigo para mulheres”, disse Daniels ao jornal britânico Daily Mirror no sábado.
Esta é a primeira entrevista de Daniels desde que um júri de Nova York considerou o ex-presidente culpado, na quinta-feira, de 34 acusações de falsificação de documentos contábeis para ocultar um pagamento destinado a silenciar a ex-atriz, que afirma ter tido relações com o magnata, o que ele nega.
Daniels, de 45 anos, afirma que recebeu 130 mil dólares para evitar um escândalo sexual na reta final da campanha de 2016 que levou Trump à Casa Branca.
Stormy afirmou que Trump, o primeiro ex-presidente dos EUA a ser condenado pela Justiça, “está completa e absolutamente fora de sintonia com a realidade”.
“Estar no tribunal foi muito intimidante para mim, com os jurados olhando para mim”, disse a mulher que usa um nome artístico, mas é legalmente chamada de Stephanie Clifford. “Como eu sempre disse, tenho dito a verdade o tempo todo”.
O republicano de 77 anos, que classificou o processo contra ele como “injusto”, foi libertado sem fiança após uma audiência esta semana.
O ex-presidente (2017-2021) poderá ser condenado a quatro anos de prisão por cada acusação, mas é mais provável que seja condenado à liberdade condicional, já que não tem antecedentes criminais. Mesmo assim, ele não está inabilitado para continuar a sua campanha eleitoral, inclusive no caso improvável de ser preso.
Neste domingo, em entrevista à rede Fox News, Trump afirmou que uma pena de prisão pode ser “um ponto de ruptura” para os seus apoiadores.
Embora o magnata tenha indicado que pessoalmente estava “de acordo” com a ideia de ser preso pelas acusações impostas neste julgamento, alertou que tal sentença “seria difícil de ser aceita pelo público”.
Essas palavras, para muitos uma referência indireta a potenciais incidentes, têm ressonância particular em um país muito dividido e ainda marcado pela violenta invasão do Capitólio – sede do Congresso – em 6 de janeiro de 2021, quando uma multidão de apoiadores de Trump tentou impedir a certificação da vitória eleitoral do seu rival democrata, Joe Biden.
Adam Schiff, democrata na Câmara de Representantes e ex-membro da comissão que investigou o ataque ao Capitólio, acredita que Trump tinha uma estratégia clara e que isto se refere àquele 6 de janeiro.
“Esta é essencialmente a sua ameaça de que, se for preso, encorajará os seus apoiadores a se levantarem” em protesto, disse Schiff neste domingo no programa matinal State of Union da CNN.
O presidente americano, Joe Biden, que busca a reeleição nas eleições de novembro, criticou o seu futuro adversário nas urnas por questionar o sistema judicial dos EUA e dizer que seu processo foi fraudado e descreveu suas declarações como “perigosas”.
Trump também se recusou repetidamente a comprometer-se a aceitar o resultado caso perca novamente para Biden.
– “Isso não acabou para mim” –
O depoimento de Daniels foi um dos momentos mais comentados do julgamento, já que a ex-atriz contou detalhes da relação sexual que teve com o magnata em 2006.
“Isso não acabou para mim. Para mim, isso nunca vai acabar”, disse a mulher, que afirmou que mesmo que Trump seja considerado culpado, ela terá que viver para sempre com este “legado”.
Daniels afirmou na entrevista que se sente “reivindicada”, mas também destacou que nunca conseguirá escapar das ameaças de morte que recebe dos apoiadores de Trump.
No documentário “Stormy”, a ex-atriz confessou que os constantes insultos que recebe de Trump e dos seus simpatizantes a magoam, mas que está mais preocupada com as ameaças.
“São ameaças diretas, como ‘vou até sua casa e vou cortar sua garganta’ ou ‘sua filha deve sofrer eutanásia'”.
Em entrevista à rede Fox, Trump comentou a notável ausência de sua esposa, Melania, durante o julgamento, no qual foi apoiado por outros membros de sua família.
“Ela está bem, mas acho que é muito difícil para ela”, disse Trump, em um momento em que a sua esposa também não participa de sua campanha e é raro que eles apareçam juntos em eventos públicos.
“Acho que provavelmente, em muitos aspectos, é muito mais difícil para a minha família do que para mim”, disse o ex-presidente.
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