STF manda Bolsonaro usar tornozeleira eletrônica; ex-presidente nega plano de fuga

STF manda Bolsonaro usar tornozeleira eletrônica; ex-presidente nega plano de fuga

"JairAgentes da PF estiveram na casa do ex-presidente, que passará a ser monitorado 24h por dia e não poderá usar redes sociais ou falar com diplomatas estrangeiros. Bolsonaro vê "humilhação" e nega plano de fuga.A Polícia Federal realiza nesta sexta-feira (18/07) uma operação na residência de Jair Bolsonaro, em Brasília, e em endereços ligados ao Partido Liberal (PL), legenda do ex-presidente.

O mandado foi expedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com a Folha de S.Paulo, o tribunal determinou que o ex-presidente terá a partir de agora que usar tornozeleira eletrônica e passará a ser monitorado 24 horas por dia. Ele também não poderá acessar redes sociais.

Bolsonaro foi levado à PF para que o aparelho fosse colocado em seu tornozelo.

De acordo com a ordem, Bolsonaro também terá de permanecer em casa entre 19h e 7h da manhã. Ele também foi proibido de se comunicar com embaixadores e diplomatas estrangeiros, bem como outros réus e investigados pelo Supremo, e não poderá acessar embaixadas.

Segundo o jornal, as ordens cautelares do STF foram motivadas pela possibilidade de Bolsonaro fugir do país e pedir asilo ao governo dos Estados Unidos.

Bolsonaro suspeito de obstrução de Justiça

Ao emitir a ordem, o ministro do STF Alexandre de Moraes atendeu a uma representação da PF que teve parecer favorável da Procuradoria-Geral da República (PGR).

A PF avalia que Bolsonaro tem atuado para dificultar o julgamento em que é réu por tentativa de golpe – o processo entrou na reta final e pode ser concluído este ano – e protagonizado iniciativas que caracterizam os crimes de coação no curso do processo, obstrução de Justiça e ataque à soberania do país.

Ex-presidente fala em "humilhação" e "exagero" e nega plano de fuga

Ao deixar a PF, Bolsonaro chamou de "suprema humilhação" e "exagero" as restrições do STF contra ele e negou que tivesse planos de fugir do Brasil ou buscar refúgio em embaixadas.

Ele também voltou a insistir que o processo contra ele por golpe de Estado é um "inquérito político" e que ele está sendo "perseguido". "Que provas tem contra mim? Não tem nada. São só suposições."

Em nota divulgada momentos antes, a defesa do ex-presidente disse que "recebeu com surpresa e indignação a imposição de medidas cautelares severas contra ele, que até o presente momento sempre cumpriu com todas as determinações do Poder Judiciário", e que vai se manifestar sobre o caso após ter acesso à decisão judicial.

Ação ocorre em meio a crise diplomática entre EUA e Brasil

A ação da PF e a ordem cautelar contra o ex-presidente ocorrem na esteira de uma crise diplomática entre os EUA e o Brasil, que teve como estopim a imposição de um tarifaço pelo presidente Donald Trump, um aliado de Bolsonaro, e a abertura de uma investigação comercial contra o Brasil.

Entre as justificativas elencadas por Trump está a situação legal de Bolsonaro, que segundo o americano estaria sendo vítima de uma "caça às bruxas".

As medidas da Casa Branca foram comemoradas à época do anúncio, em 9 de julho, pelo deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está desde março nos EUA e tem feito lobby junto a políticos americanos em favor do pai.

O tarifaço, porém, repercutiu mal até mesmo entre setores da direita e dividiu expoentes do bolsonarismo, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

Em entrevistas recentes, Jair Bolsonaro mencionou a intenção de reaver seu passaporte para ir até os EUA "conversar" com Trump e reverter as tarifas, alegando que tal medida nunca teria sido imposta caso ele fosse o presidente.

Na noite de quinta-feira (17/07), Trump, divulgou ainda uma carta ao ex-presidente Jair Bolsonaro na qual reiterou seu apoio diante do que chamou de "terrível tratamento" que, em sua opinião, ele está recebendo da Justiça brasileira.

Trump também ressaltou o desejo de que a ação penal contra Bolsonaro pela acusação de tramar um golpe de Estado acabe "imediatamente". O governo Lula classificou as ações de Trump como "chantagem".

Caso teria chegado à mesa de Moraes dois dias após tarifaço

Segundo a imprensa brasileira, o procedimento sigiloso que levou o STF a impor as medidas cautelares nesta sexta-feira a Bolsonaro chegou à mesa do ministro Alexandre de Moraes dois dias depois do anúncio do tarifaço de Trump contra o Brasil.

Dentre as pessoas com as quais Bolsonaro não poderá manter contato está o próprio filho Eduardo, que tornou-se alvo de uma investigação no STF após se mudar para os EUA. Moraes afirma que ele estaria interferindo no andamento da ação penal da trama golpista.

Eduardo tem atuado para tentar persuadir as autoridades americanas a pressionar o Brasil com diversas medidas e sanções em retaliação ao julgamento do pai e ao enquadramento de empresas de redes sociais que se recusam a cumprir ordens do STF para retirada de conteúdo ligado à base de apoio de Bolsonaro.

Além das tarifas, as autoridades americanas também ventilaram a possibilidade de sancionar o ministro Moraes com base na Lei Magnitsky, o que significaria que o ministro poderia ficar sem cartão de crédito, já que as bandeiras Visa, MasterCard e American Express são americanas.

A licença de Eduardo do mandato na Câmara expira neste domingo (20/07).

Já Bolsonaro está inelegível até 2030 por abuso de poder.

jps/ra (ots)