O Supremo Tribunal Federal (STF) deu sinal verde nesta quinta-feira para a realização da Copa América no Brasil ao rejeitar três recursos que pediam a suspensão do torneio devido à situação sanitária do país, que é o segundo com mais mortes por covid-19 e que espera uma terceira onda da pandemia.

Seis dos onze juízes da mais alta corte brasileira, número mínimo exigido, votaram de forma remota, em sessão extraordinária, a favor da autorização do campeonato regional de seleções, que terá início neste domingo com o duelo entre Brasil e Venezuela, em Brasília.

No entanto, eles alertaram sobre a necessidade de reduzir eventuais danos. Pelo menos dois dos juízes pediram em suas votações que o governo apresente, 24 horas antes do início da Copa América, um plano de mitigação de riscos, o que ainda não foi confirmado.

Embora não possa mais alterar a decisão majoritária do STF de que a Copa América seja disputada, os outros cinco juízes têm até as 23h59 para votar remotamente, em sessão extraordinária, os pedidos do Partido dos Trabalhadores (PT), da Confederação Nacional dos Metalúrgicos e do Partido Socialista Brasileiro (PSB) de suspender o torneio.

Em suas ações judiciais, os autores alegaram razões sanitárias para impedir a realização do torneio de seleções mais antigo do mundo, cuja última edição, em 2019, também foi realizada no Brasil, com o triunfo da equipe verde-amarela.

A aprovação do STF é o último obstáculo superado, dentro e fora dos gramados, por um torneio que deveria ter sido disputado na Argentina e na Colômbia em 2020, mas que foi adiado por um ano devido à pandemia.

O presidente Jair Bolsonaro, um dos líderes mais questionados por sua gestão da pandemia, concordou em aceitar o campeonato às pressas após as retiradas da Argentina, semanas atrás, devido ao agravamento da saúde, e da Colômbia, em meio a protestos antigovernamentais que deixaram dezenas de mortos.

– “Controlar os protocolos” –

A ministra Cármen Lúcia, um dos magistrados que indeferiram os pedidos de suspensão sustentou que caberá às autoridades dos estados que receberão as partidas “definir, fazer cumprir e controlar os protocolos para não se ter um ‘copavírus’, fonte de novas infecções e transmissão de novas cepas”.

Desde que o governo Bolsonaro anunciou a Copa América na segunda-feira da semana passada, que será disputada sem público até 10 de julho no Rio de Janeiro, Brasília, Cuiabá e Goiânia, não param de chover críticas sobre sua realização, incluindo convocação de protestos no domingo.

Na quarta-feira, a Mastercard anunciou que decidiu não “ativar” seu patrocínio, retirando sua logomarca do torneio continental, e posteriormente a gigante das bebidas Ambev, que faz parte do grupo global AB Invev, informou que “suas marcas não estarão presentes na Copa América”.

Nesta quinta-feira, o grupo Diageo, que se apresenta como líder mundial em bebidas alcoólicas premium, anunciou a retirada de “suas ações de marca no Brasil no âmbito do patrocínio da Copa América, devido à atual situação sanitária brasileira e no que diz respeito ao momento da pandemia”.

– Resistências internas –

Antes da retirada dos anunciantes, a 47ª edição da Copa América, que foi disputada pela primeira vez em 1916, havia enfrentado resistências dos principais protagonistas: os jogadores e os treinadores.

Na terça-feira, após a vitória sobre o Paraguai nas Eliminatórias para a Copa do Mundo, os jogadores da Seleção se manifestaram contra “a organização da Copa América”, embora tenham garantido que disputarão o torneio que conquistaram em 2019, também realizado no Brasil, negando rumores de boicote.

Astros sul-americanos como o uruguaio Luis Suárez, o colombiano Juan Guillermo Cuadrado e o argentino Sergio Agüero criticaram publicamente o evento. A este coro se juntaram os treinadores do Equador Gustavo Alfaro; do Peru, Ricardo Gareca, e do Chile, Martín Lasarte.

Epidemiologistas e outros especialistas em saúde garantem que o país, que está se aproximando de meio milhão de mortes por covid-19, enfrenta atualmente um novo surto da pandemia, com aumento de casos, e que a realização da Copa América que reúne dez países, poderia piorar a situação.

No entanto, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, garante que o torneio, o quarto nos últimos seis anos, será realizado em “ambiente controlado”, com exames periódicos para jogadores e protocolos sanitários especiais.

As autoridades brasileiras haviam dito que as dez equipes participantes deveriam ter suas delegações, de até 65 pessoas, vacinadas para entrar no Brasil, mas Queiroga recuou, garantindo que as vacinas poderiam “comprometer o ritmo competitivo dos jogadores” e também, devido ao fato de os atletas poderem não conseguir adquirir a imunidade.

jm-raa/mel/ol/aam