A questão ambiental é parte inseparável do trabalho de Stella McCartney desde o início de sua carreira. Na marca que leva seu nome, fundada em 2001, a estilista britânica não usa matéria-prima de origem animal e está sempre em busca de tecidos e práticas sustentáveis. Mas a moda ainda vem em primeiro lugar. “A única forma de eu conseguir começar a conversa que quero começar é fazendo um produto que você queira comprar e gastar seu dinheiro suado. Se o produto é uma porcaria, não tem conversa. Se eu não tiver um negócio de sucesso, sou só uma ambientalista que por acaso é filha do Paul McCartney, e essa é uma conversa que não dura mais do que três segundos”, diz a estilista em entrevista ao jornal The Guardian.

No mês passado, Stella conquistou um feito e tanto: ela comprou de volta a parte de sua empresa que havia sido vendida para o grupo de luxo Kering – do qual fazem parte marcas como Gucci, Balenciaga e Saint Laurent. Agora, ela é a única proprietária de sua marca, que volta a ser independente. “É sobre legado. O lema do meu avô [Lee Eastman] era ‘mantenha-se no poder’, e eu sempre priorizei o longo prazo”, explica ela à publicação.

Stella quer fugir do clichê da moda ecológica. Nada de peças de crochê, bolsas de pano e papetes: é na biotecnologia que a estilista tem investido, aliando o design superelegante de suas peças a materiais como o micélio, parte da raiz do cogumelo que dá origem a um tecido praticamente idêntico ao couro. O uso de matéria-prima reciclada também faz parte da rotina da grife. Recentemente, em parceria com a ONG Parley for the Ocean, que cuida da preservação da vida marinha, ela desenvolveu uma fibra feita a partir de plástico retirado dos oceanos. “Somente 1% das roupas é reciclado. Quer dizer, o que estamos fazendo?”, questiona a estilista.

Na moda, a preocupação com o meio ambiente ecoa. Etiquetas de luxo, como a Versace e a Gucci, anunciaram este ano que não vão mais trabalhar com pele animal em suas coleções futuras. Mas o impacto que a indústria tem sobre natureza ainda preocupa – sua emissão de gases poluentes é de 1,2 bilhões de toneladas por ano – e vai muito além dos casacos de pele. É nas redes de fast-fashion que se concentram as práticas mais prejudiciais ao ambiente, especialmente no que se refere à liberação de poluentes durante a produção de tecidos como a viscose e ao descarte das peças.

A questão é também de classe: seja na Inglaterra, país natal da designer, ou no Brasil, muitas pessoas não têm acesso a marcas sustentáveis como a de Stella, que têm preços altos. Por hora, o caminho parece ser buscar o meio-termo: marcas pequenas, de produção desacelerada e local. “Uma vez que você toma consciência ambiental, como amante da natureza e da vida, não consegue mais ignorar”, decreta a estilista.