Steinmeier, um presidente-diplomata ao resgate de Merkel

Steinmeier, um presidente-diplomata ao resgate de Merkel

Tudo depende dele: o presidente alemão Frank-Walter Steinmeier, que normalmente desempenha um papel protocolar, deve agora conter uma crise política excepcional, ajudando Angela Merkel a permanecer no poder.

“Nunca em sua história a República Federal precisou das habilidades diplomáticas de seu chefe de Estado do que nos dias e semanas vindouros”, considerou nesta terça-feira o jornal Der Spiegel.

A primeira potência econômica da Europa mergulhou no domingo em uma crise política sem precedentes, após negociações fracassadas entre conservadores, liberais e ambientalistas para formar um novo governo e a recusa dos social-democratas a voltar a fazer parte de uma coalizão com Merkel

– Diplomata experiente –

Steinmeier poderia ter iniciado imediatamente um procedimento que levaria a uma dissolução do Parlamento, o que a maioria dos partidos parecia desejar.

Mas este diplomata experiente, que serviu durante muitos anos como ministro das Relações Exteriores, quer evitar eleições antecipadas.

Com 61 anos, este homem afável, cabelos brancos bem penteados e óculos de aro, é “uma chance na crise”, resume o jornal Die Zeit.

“Espero que todos estejam prontos para discutir e possibilitar a formação de um novo governo”, ressaltou na segunda-feira o social-democrata.

A declaração deve ter ressoado em Martin Schulz, presidente de seu partido, o SPD, grande derrotadas nas legislativas de 24 de setembro.

Steinmeier foi duas vezes ministro de Angela Merkel, e isso apesar de uma derrota eleitoral humilhante contra a chanceler em 2009.

Considerado como alguém bastante transparente desde que assumiu a presidência em março, pediu na segunda-feira que as formações políticas “sirvam ao país”.

A partir desta terça-feira, os líderes dos partidos começarão a desfilar em seu escritório no Castelo de Bellevue, em Berlim. Com exceção da extrema esquerda e da extrema direita.

Será para ele a oportunidade de “preencher as lacunas”. “Esta crise faz dele um novo presidente”, escreveu o jornal Süddeutsche Zeitung.

– Discrição –

No entanto, sua mudança do ministério das Relações Exteriores para a presidência, apenas alguns meses antes das eleições legislativas, soou como uma aposentadoria para este homem, que permaneceu por muitos anos à sombra de seu mentor, o ex-chanceler Gerhard Schröder (1998-2005).

Profundo conhecedor dos assuntos internos e externos, mas não muito carismático, subiu discretamente nas fileiras do SPD, onde ingressou aos 19 anos.

Antes de se tornar ministro das Relações Exteriores da primeira grande coalizão liderada por Angela Merkel, este doutor em direito era amplamente desconhecido do público em geral na Alemanha.

“Nunca pretendi ser um político”, disse ele à revista Bunte, “estas são coisas que acontecem”.

Num plano mais pessoal, Steinmeier é um ativista da doação de órgãos. Em 2010, este pai de uma adolescente se afastou brevemente da política para doar um rim para sua esposa gravemente doente.

No segundo governo da grande coalizão a partir de 2013, retomou seus aposentos nas Relações Exteriores, uma paixão para esse infatigável negociador.

Suas relações com a chanceler são consideradas respeitosas, sem serem amigáveis. No entanto, já se opuseram publicamente, como quando, após o voto da Grã-Bretanha pelo Brexit, a chanceler pediu paciência, enquanto seu chefe da diplomacia instou Londres a iniciar o processo de saída da UE com urgência.

Neste cargo, incorporou uma diplomacia pragmática, resolutamente europeia, mas também ansiosa em preservar o diálogo com a Rússia, especialmente no contexto do conflito ucraniano, o que lhe valeu muitas críticas.

Quando assumiu a presidência, sabia que não era o candidato preferido de Merkel.

Mas “Angela Merkel deve se alegrar particularmente de tê-lo hoje como mediador dessa crise, porque tem qualidades bem-vindas, ele é diplomata e é social-democrata”, recordou o Der Spiegel.