Expedição privada deve capturar visão privilegiada da Terra e conduzir experimentos, como o primeiro registro de raios X em humanos no espaço e o cultivo de cogumelos em microgravidade.Um foguete da SpaceX decolou na noite de segunda-feira (31/03) para a primeira missão espacial tripulada a sobrevoar diretamente os polos Norte e Sul. O lançamento aconteceu na Flórida, no Centro Espacial Kennedy, da Nasa.
A expedição privada foi bancada pelo investidor de bitcoins nascido na China e naturalizado maltês Chun Wang, que levou consigo mais três exploradores: a cineasta norueguesa Jannicke Mikkelsen, o especialista em expedições polares australiado Eric Philips e a pesquisadora em robótica alemã Rabea Rogge – a primeira mulher de seu país a ir ao espaço e piloto da missão.
Wang não revelou quanto pagou à SpaceX, de Elon Musk, pela aventura polar, que deve durar de três a cinco dias. A missão foi chamada de "Fram2" em homenagem a um famoso navio norueguês do século 19 que desbravou os mares gelados do Ártico e da Antártida. A tripulação partiu a bordo de uma cápsula Dragon, levada por um foguete Falcon 9 da SpaceX.
"Com o mesmo espírito pioneiro dos primeiros exploradores polares, buscamos trazer novos dados e conhecimentos para promover os objetivos de longo prazo da exploração espacial", disse Chun Wang, comandante da missão.
A tripulação planeja alguns experimentos, incluindo a realização dos primeiros raios-X em humanos no espaço e o cultivo de cogumelos num ambiente de microgravidade.
Wang apresentou a ideia da expedição à SpaceX em 2023, dois anos depois que o empresário de tecnologia americano Jared Isaacman financiou e liderou a primeira equipe privada e totalmente civil a orbitar a Terra, também com uma nave da empresa de Musk. Isaacman agora é cotado pelo governo de Donald Trump para o cargo mais alto da Nasa.
Feito inédito
Até o momento, nenhum viajante espacial havia se aventurado além dos 65 graus de latitude norte e sul – linhas imaginárias próximas, mas fora, dos círculos Ártico e Antártico.
As regiões polares da Terra estão fora da visão dos astronautas, inclusive da Estação Espacial Internacional (ISS). As missões lunares Apollo não passaram diretamente sobre essas regiões.
Para esse feito, a equipe treinou por oito meses, inclusive no deserto do Alasca, para simular a vida em ambientes confinados sob condições adversas.
A primeira etapa do voo – da Flórida ao Polo Sul – levou apenas meia hora. Da altitude almejada de cerca de 270 milhas (440 quilômetros), a cápsula Dragon, totalmente automatizada, dará a volta ao mundo em aproximadamente uma hora e meia, incluindo 46 minutos para voar de polo a polo.
"Aproveite as vistas dos polos. Envie-nos algumas fotos", disse o controle de lançamento da SpaceX por rádio assim que a cápsula atingiu a órbita.
Após retornar à Terra, a tripulação pretende sair da espaçonave sem assistência médica adicional, como forma de ajudar os pesquisadores a avaliar a capacidade dos astronautas de realizar tarefas básicas após o voo espacial.
A órbita polar é ideal para satélites climáticos e de mapeamento da Terra, e pode também ter finalidade de espionagem. A rota favorece a observação do mundo inteiro, todos os dias – enquanto a nave circunda a Terra de polo a polo, é possível vê-la girando logo abaixo.
Geir Klover, diretor do Museu Fram, em Oslo, espera que a viagem chame mais atenção para as mudanças climáticas e o derretimento das calotas polares.
Ele emprestou à equipe um pequeno pedaço do convés de madeira do navio com a assinatura de Oscar Wisting, que, com Roald Amundsen, no início dos anos 1900, foi o primeiro a chegar aos dois polos.
sf/md (AFP, DW)