Às vésperas do período de chuvas mais intensas na capital paulista, a gestão Fernando Haddad (PT) determinou, nesta semana, a redução nos contratos de varrição pública para economizar recursos e fechar as contas no azul. Com isso, sindicatos do setor já falam em redução dos trabalhos e no corte de 3 mil varredores. A Prefeitura vê “chantagem barata” na ameaça, admite redução dos repasses, mas nega a diminuição de serviços.

O Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Prestação de Serviços de Asseio e Conservação e Limpeza Urbana de São Paulo (Siemaco) afirma ter sido informado, na segunda-feira, que os serviços seriam reduzidos, a partir desta sexta-feira, 11, em 50%. “A Prefeitura apresentou uma nova planilha de serviços, com redução à metade”, afirma o presidente da entidade, Moacyr Pereira.

Segundo ele, as duas empresas que trabalham para a administração municipal, a Inova e a Soma, informaram que não teriam como manter a mesma quantidade de funcionários com uma queda dessa magnitude no número de serviços. “São 12 mil funcionários ao todo, 6 mil em cada. Eles iriam demitir 6 mil pessoas, mas negociamos. Mesmo assim, disseram que vão demitir 3 mil – 1,5 mil cada.”

O Estadão procurou as duas empresas. Não conseguiu contato com a Soma. A Inova disse que não iria se pronunciar sobre o assunto nesta quarta-feira, 9. “Três mil pessoas é um número muito alto e não vamos aceitar. Vamos fazer protestos, paralisações, não vamos permitir que isso aconteça”, adiantou o presidente do sindicato. O valor dos repasses, segundo ele, é de R$ 45 milhões. O corte derrubaria esse montante para R$ 22,5 milhões.

Reajuste.

A Prefeitura admite a redução dos valores, mas não os números informados pelo sindicato. De acordo com a gestão Haddad, o corte é de 13,5% para novembro e dezembro. “Trata-se de reajuste nos contratos”, informa, em nota. “E reajuste no último mês de um contrato executado integralmente ao longo de cinco anos.”

Sobre as eventuais demissões, a Prefeitura disse que se “trata de uma chantagem barata” e não vê como, em apenas 45 dias, seja preciso fazer cortes de pessoal. A administração municipal nega que tenha determinado redução nos serviços. A negociação envolveria apenas os valores pagos.

A negociação resulta do fim dos contratos de limpeza, assinados ainda na gestão Gilberto Kassab (PSD), com término em dezembro deste ano. A prorrogação dos acordos por mais nove meses é prevista no próprio contrato, mas com brecha para negociação nos valores.

Além disso, a gestão municipal enfrenta um processo de queda na arrecadação. Em 2015, até outubro, a Prefeitura teve uma receita de R$ 39 bilhões, em valores corrigidos pela inflação. Entre janeiro e outubro deste ano, em um cenário de recessão econômica, a arrecadação caiu para R$ 36,8 bilhões – uma queda de mais de R$ 2 bilhões em recursos, que estão fazendo falta no caixa.

Impactos.

A eventual redução dos serviços de varrição pode agravar o problema de enchentes na cidade.

“A varrição inclui a limpeza das bocas de lobo. O que não é varrido vai para as galerias e, de lá, para os rios. Provoca-se uma obstrução no sistema de drenagem”, afirma o engenheiro Luiz Fernando Orsini, autor do Plano de Drenagem Urbana de São Paulo.

Ele destaca ainda que a eventual economia nos serviços de varrição termina por encarecer o trabalho como um todo. “Se as galerias estão obstruídas, elas precisam ser limpas, e os rios também. A limpeza das galerias é feita de uma forma muito mais difícil e fica mais cara do que a varrição de rua”, destaca o engenheiro.

Operação diária.

7.800 km de ruas são varridos diariamente na capital paulista. Além dos 12 mil varredores, as empresas do setor usam 600 caminhões para transporte do lixo.

Estado de atenção em SP.

Toda a capital paulista entrou em estado de atenção para alagamentos no fim da tarde desta quarta-feira. A chuva foi mais intensa nas zonas norte e sul. O Corpo de Bombeiros informou, às 18h40, que equipes atenderam 42 chamados envolvendo árvores. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Contratos bilionários que ficam para 2017

Varrição: Assinados no fim da gestão Kassab, os contratos para limpeza das ruas e das bocas de lobo vencem no mês que vem e serão prorrogados temporariamente.

Ônibus: A licitação de ao menos R$ 120 bilhões para operação do transporte público parou no Tribunal de Contas do Município e ficará para João Doria (PSDB).

Iluminação: Bloqueada antes pela Justiça, a Parceria Público-Privada da Iluminação Pública está parada no TCM e Haddad ainda tenta liberá-la em sua gestão.