Uma mulher negra, identificada apenas como Yolanda, 89, trabalhou durante 50 anos para uma família em Santos, no litoral de São Paulo. Após uma notícia-crime de uma vizinha, a polícia descobriu que ela era submetida a trabalho análogo à escravidão. O caso ocorreu em 2020, mas veio à tona recentemente depois que o Ministério do Trabalho pediu à Justiça que a vítima seja indenizada em R$ 1 milhão por danos morais coletivos. As informações são do programa Fantástico, da TV Globo.

Yolanda trabalhava como empregada doméstica e não recebia salário nem podia tirar folga. Além disso, era vítima de abusos físicos e verbais por parte de Rosana Fernandes Simão, de 67 anos, uma das filhas de Nirce, 93, sua patroa.

Zilmara de Souza Dantas, vizinha da família para a qual Yolanda trabalhava, estranhou a condição da idosa.

“Ela estava trabalhando ainda com uma idade tão avançada. A roupa dela era muito gasta, muito puída, sempre de chinelo, muito humilde e um machucado na perna que não sarava nunca. Dava bom dia para ela, boa noite, mas ela não me respondia. Olhava sempre para baixo. Parecia coagida a não se comunicar. Eu queria mesmo entender qual era o contexto dela naquele apartamento, dentro daquela família.”

“Uma filha dessa minha vizinha visitava essa mãe e eu comecei a identificar muitos gritos e xingamentos”, completou Zilmara, que decidiu gravar e registrar uma notícia-crime sobre o caso.

Ao ser questionada, a família empregadora informou que o processo está sob sigilo e não pode comentar o assunto.

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A polícia informou que Nirce, Rosana e outra filha morreram durante as investigações. Porém, Rosana chegou a confirmar as agressões contra a empregada doméstica durante depoimento.

A defesa de Yolanda entrou com uma ação trabalhista contra os outros familiares de Nirce. Até que saía a decisão sobre o caso, a Justiça determinou que a idosa receba uma pensão.

Yolanda concedeu uma entrevista ao Fantástico e afirmou que as suas atividades eram “limpar, fazer faxina… serviço familiar; lavar, passar, cozinhar. Ela não me pagava ordenado. A filha dela, Rosana, queria me bater toda hora, berrava muito comigo”.

História de Yolanda

A delegada Leyner Anache Gomes dos Santos, titular da Delegacia do Idoso, informou que Yolanda, o marido e as duas filhas foram despejados em 1970.

“Ela saiu vagando pela cidade e costumava pedir alimentos, auxílio nas casas. Conseguiu o convite para trabalhar como empregada doméstica. E ali ficou por 50 anos, sem contato nenhum com ninguém da família dela.”

Por conta de seu trabalho, ela perdeu contato com a família. Após ser resgatada, a polícia ligou para Viviane, neta de Yolanda.

“Falou o nome da minha avó, perguntou se eu conhecia. Falei: ‘Conheço. Essa é a minha avó, mas a gente acredita que ela faleceu porque tem mais de 50 anos que a gente não tem notícia dela’. Aí disseram: ‘Ela não faleceu, não. Ela está viva.’”

Depois de encontrar com a avó, Viviane disse que “só conseguia lembrar da minha mãe. Porque até o último dia da vida dela, ela acreditava que a mãe dela estava viva. Só que ela não teve a oportunidade de poder reencontrá-la”.


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