O Teatro da Universidade Católica de São Paulo (Tuca), em São Paulo, recebeu na noite desta segunda-feira, 2, um ato de lançamento do Direitos Já, movimento que reuniu dezenas de líderes de vários partidos desde a esquerda representada pelo PC do B até a centro-direita do PL. O evento teve como mote a defesa da democracia e contra “ameaças de retrocesso” do governo Jair Bolsonaro.

O ex-ministro Ciro Gomes (PDT); o governador do Maranhão, Flavio Dino (PCdoB); o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), que presidiu a comissão especial da reforma da Previdência; o ex-governador Marcio França (PSB), o deputado Paulo Pereira da Silva (SDD), a ex-prefeita Marta Suplicy (MDB), dirigentes da Rede, PV, Cidadania e outros dez partidos subiram ao palco do Tuca, na zona oeste da capital, junto com representantes da sociedade civil, como o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão, o cardeal d. Claudio Hummes e o jurista Pedro Serrano, entre outros.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o ex-ministro Gilberto Kassab (PSD) e o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) gravaram vídeos para o evento. Até o linguista norte-americano Noam Chomsky, uma das principais referências teóricas da esquerda mundial, foi ao Tuca, levado por Ciro.

Já o PT não foi representado por suas maiores lideranças. O ex-prefeito Fernando Haddad, que havia confirmado presença, e o ex-ministro Aloizio Mercadante, que participaram do primeiro encontro do Direitos Já, não foram. O maior partido da oposição a Bolsonaro foi representado pelo vereador Eduardo Suplicy, que não tem cargo na direção partidária.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao PT, também não enviou representantes, ao contrário da Força Sindical, União Geral dos Trabalhadores (UGT) e Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), que mandaram seus principais dirigentes.

Ciro e Dino, citados como possíveis candidatos à sucessão de Bolsonaro em 2022, discursaram no evento. “Tem que ter uma agenda de urgência, uma série de questões orçamentárias como as bolsas do CNPQ, a proposta de orçamento que tira 50% da verba do Ministério da Ciência e Tecnologia, que sinaliza concretamente que em julho ou agosto as universidades federais vão parar, tudo isso tem que ser aclarado para que a sociedade entenda no devido tempo. A grande tarefa de fundo, no entanto, é abrir um espaço para entender onde foi que as elites, no melhor sentido da palavra, se dissociaram da vida do povo porque aí você não tem conversa”, disse o pedetista na saída do evento.

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Flávio Dino enumerou uma lista de quatro pontos que podem servir de pauta para a criação de uma unidade do campo democrático contra Bolsonaro que inclui a defesa da soberania nacional, retomada da bandeira do combate à corrupção e defesa da educação, ciência e tecnologia.

PT fica de fora por ‘Lula Livre’

De acordo com fontes que participaram da preparação do ato, os petistas que integravam o Direitos Já se afastaram do movimento por discordarem do veto à inclusão do “Lula Livre” na pauta. Segundo eles, outros integrantes do Direitos Já diziam que a defesa da liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não unifica o movimento.

Haddad e Mercadante não explicaram por que não foram. O ex-prefeito esteve com Dino horas antes do ato e chegou a cancelar uma viagem que faria ao Rio.

Representantes de outros partidos interpretaram a ausência de dirigentes petistas como sinal de que o partido não aceita dividir o protagonismo com outros atores políticos.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, negou que o partido tenha boicotado o ato. Ela disse que não foi porque recebeu o convite apenas na Sexta-feira (30) à noite e já tinha outros compromissos agendados.

“Cheguei a falar com alguns companheiros para que eles fossem a este ato importante em defesa da democracia e que seria importante colocar dois aspectos: que nós começamos a desestabilização da democracia com o impeachment da presidenta Dilma (Rousseff) e que a prisão do presidente Lula representa a simbologia maior do ataque ao estado democrático de direito e ao devido processo legal. O que estamos reivindicando para Lula não é a decretação da sua inocência, mas que ele tenha direito a um julgamento justo”, disse Gleisi, por telefone, ao jornal O Estado de S. Paulo.

Os petistas, no entanto, não foram os únicos ausentes. Guilherme Boulos (PSOL) foi convidado, mas declinou. “Acho importante a articulação que ele vem construindo. Mas não tenho como estar junto com figuras que estão, neste momento, atacando direitos sociais, trabalhistas e patrocinando a entrega do patrimônio público”, justificou Boulos.

Ele se referia à possibilidade de ter que dividir o palco com, entre outros representantes da direita, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Maia era esperado no evento, consultou colegas de Congresso sobre a natureza do ato até poucas horas antes do horário marcado, mas acabou desistindo.

“Desde as ‘Diretas Já’, o País não conseguia unir no mesmo palco uma pluralidade política tão grande. Foi um evento de lideranças e mais de 20 setores da sociedade representados. Agora é começar a rodar o País”, disse o coordenador nacional do Direitos Já, o sociólogo Fernando Guimarães, líder da tendência tucana PSDB Esquerda Pra Valer.

Na saída, Marta Suplicy, que conversa com partidos sobre a possibilidade de ser candidata à Prefeitura de São Paulo no ano que vem, comemorava. “Deu certo, deu certo”, disse ela.


Marcio França, que também se prepara para disputar a Prefeitura em 2020, avaliou que dificilmente o movimento pode resultar na criação de um novo partido político devido às dificuldades impostas pela legislação, mas abre um bom ambiente de diálogo para setores que têm diferenças ideológicas mas objetivos em comum.


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