A mulher negra, de 51 anos, que teve o pescoço pisado por um policial em São Paulo, em maio de 2020, foi denunciada na terça-feira (19) por quatro crimes pela promotora de Justiça Flavia Lias Sgobi. Na denúncia do Ministério Público de São Paulo, a vítima é acusada de infração de medida sanitária preventiva, desacato, resistência e lesão corporal (neste caso, os policiais militares são as vítimas das agressões). As informações são do G1.

Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, a vítima contou que foi empurrada na grade do próprio bar, levou três socos e teve a tíbia quebrada ao levar uma rasteira. Em uma das cenas exibidas pelo programa, ela aparece deitada no chão com o policial pisando em seu pescoço. Depois, é algemada e arrastada para uma calçada, onde é novamente imobilizada pelo pescoço. Desta vez, o policial usa o joelho.

No documento, Flavia Lias Sgobi usa informações do boletim de ocorrência registrado pelos policiais para acusar a mulher e outros dois homens de desacato e até agressão contra os agentes. No entanto, a versão apresentada pelos agentes na 25° Distrito Policial (Parelheiros) foi feita antes dos vídeos do caso virem à tona.

Os policiais envolvidos no caso foram alvo de denúncia do MP Militar, que os acusa também por quatro crimes: lesão corporal, falsidade ideológica, abuso de autoridade e inobservância de regulamento.

Defesa da mulher fala em “perplexidade”

Para o advogado Felipe Morandini, que defende a mulher negra vítima de violência policial, a denúncia causa perplexidade.

“Em acompanhamento processual, para minha surpresa e estarrecimento, recebi a notícia de que minha cliente foi denunciada pelos crimes de infração à medida sanitária preventiva, desacato, resistência e lesão corporal em face dos Policiais Militares que a agrediram, de forma brutal”, disse Morandini ao G1.

“Mesmo após a notícia ter se espalhado o mundo, e causado revolta em todos, a mesma foi ignorada pelo membro do Ministério Público, que se baseou nas informações do Boletim de Ocorrência. Ignorou as imagens que foram noticiadas, e são de conhecimento público. Trabalharei incansavelmente pela defesa da comerciante, e principalmente, para que esta denúncia seja rejeitada pelo juízo”, informou o defensor.

Em nota ao G1, a Secretaria Estadual da Segurança Pública (SSP-SP) informou que “o caso foi investigado por meio de inquérito policial pelo 25º DP e relatado à Justiça Militar com indiciamento de um autor por abuso de autoridade”. A SSP-SP informou ainda que “os dois policiais envolvidos seguem afastados da atividade operacional e respondem a um Inquérito Policial Militar”.