A um mês dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o novo secretário da Autoridade Brasileira de Controle Antidoping (ABCD), Rogério Sampaio, defende a delação premiada de atletas brasileiros. Aos menos dez deles, flagrados desde o início do ano nos exames, colaboram com investigações do Ministério Público de São Paulo.

“Sou a favor da delação premiada dos atletas. Isso é inclusive reconhecido pela lei desportiva. É uma maneira de conhecer profundamente como se dá o doping no Brasil”, justifica Rogério Sampaio, em entrevista para a Rádio Estadão.

A ABCD encaminhou ao Ministério Público os depoimentos dos atletas envolvidos, cujos nomes e modalidades seguem em sigilo. Em troca das informações sobre o acesso aos medicamentos, as penas poderão ser reduzidas.

O promotor público José Reinaldo Carneiro está responsável por apurar se há um esquema em larga escala para o consumo de substâncias ilegais no esporte brasileiro, em parceria com a 2ª Delegacia de Polícia de Saúde Pública.

“Sabemos que hoje as substâncias (ilegais) são ministradas por profissionais e dadas ao longo do treinamento para os atletas. É preciso identificar e punir quem estiver envolvido”, diz Rogério Sampaio.

A ABCD, órgão vinculado ao Ministério do Esporte, recebe desde a terça-feira representantes da Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) para revalidar o direito de o Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem fazer os exames dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.

O laboratório custou R$ 188 milhões, bancados pelo governo federal. Ele tem equipamentos modernos e foi instalado em um prédio da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Se for liberado para atuar nos Jogos Olímpicos, o laboratório deve realizar cerca de 6 mil exames antidoping.

A suspensão do laboratório foi anunciada pela Wada em 26 de junho, sob alegação de erros técnicos de procedimentos. Para torná-lo apto novamente, uma comissão brasileira poderá ir até a sede da agência, em Montreal, no Canadá, nos próximos dias.

A Wada fiscaliza os principais atletas no mundo em competições e épocas de treinamento. Uma centena de russos do atletismo perderam recentemente o direito de disputar os Jogos Olímpicos no Brasil.

“Precisamos tomar um cuidado grande entre fazer o controle e iniciar uma caçada individual a um atleta. Eu acredito que o número de atletas que não se dopam é bem maior do que os que não se dopam”, afirma Rogério Sampaio.

Medalhista de ouro pelo Brasil no judô, na categoria até 65 kg, em Barcelona-1992, na Espanha, o novo secretário da ABCD promete imparcialidade na avaliação dos exames. “Em relação à Maria Suelen Altheman e qualquer outro que já tenha treinado comigo, o controle será igual. Vou trabalhar com ética e transparência”, declara Rogério Sampaio.