Soon-Yi Previn saiu em defesa do seu marido, Woody Allen, e contou que sua mãe adotiva, Mia Farrow, a humilhava e batia nela com frequência, em suas primeiras declarações públicas sobre a briga familiar.

Em uma longa entrevista publicada no domingo à noite pela revista “New York”, Previn descreve sua mãe adotiva como uma mulher de caráter explosivo, sem instintos maternais, que estava convencida de que Soon-Yi era um pouco burra e a humilhava frequentemente.

O escândalo teve início em 1991, quando Mia Farrow encontrou na casa de Allen, que era há anos seu companheiro, fotos Polaroid de Soon-Yi nua. O cineasta conhecia a menina desde que ela tinha 10 anos, e começou a se interessar por ela sete anos depois.

Quando se beijaram pela primeira vez, Soon-Yi tinha 21 e era uma estudante universitária de primeiro período. O cineasta e ator tinha 56.

“Acredito que isso deve ter sido horrível para ela”, diz Soon-Yi. Mas “éramos ambos dois adultos que consentiram” a relação, afirmou.

– “Um pária” –

Pouco depois, Mia Farrow, hoje com 73 anos, acusou o diretor de tocar os genitais de sua filha adotiva Dylan Farrow, que tinha então sete anos. O cineasta afirma que a atriz inventou o incidente para se vingar por seu romance com Soon-Yi.

Após investigar o cineasta, a Justiça não encontrou provas suficientes para indiciá-lo por abuso de uma menor, mas Mia Farrow e quase todos os seus filhos – 14 no total, 10 adotados e quatro biológicos – cortaram relações com ele.

“Sou um pária”, afirma Allen, de 82 anos, na entrevista à jornalista Daphne Merkin, amiga do diretor há quatro décadas.

“As pessoas acham que eu era o pai de Soon-Yi, que eu a estuprei e me casei com minha filha menor de idade retardada”, declara Allen.

“O que aconteceu com Woody é tão perturbador, tão injusto”, disse Previn, que hoje tem 47 anos e é casada há 20 anos com Allen, com quem tem duas filhas adotadas.

As acusações contra Allen foram reinterpretadas sob a luz do movimento contra o assédio e as agressões sexuais #MeToo: muitos que antes não acreditavam em Mia Farrow e em sua filha Dylan – que afirma recordar ter sido abusada sexualmente por seu pai – passaram a acreditar.

Mas Previn assegura que sua mãe adotiva “tirou proveito do movimento #MeToo e fez Dylan desfilar como uma vítima”.

– “Como água e óleo” –

Soon-Yi, que nasceu na Coreia do Sul e foi adotada aos seis anos por Mia Farrow e o pianista André Previn, assegura que quase não tem boas recordações com sua mãe adotiva.

Éramos “como água e óleo”, diz. Ela relata que tem um problema de aprendizado que lhe impede, por exemplo, de soletrar corretamente, e que quando era criança a atriz batia nela e que, às vezes, a colocava de cabeça para baixo para que o sangue fosse para a cabeça e, assim, ajudasse a ser mais inteligente.

Também diz que havia uma hierarquia entre os irmãos e que ela e outras, como sua irmã adotiva Lark, eram tratadas como “domésticas”: tinham que fazer as compras, cozinhar, limpar banheiros.

Dylan Farrow, seu irmão Ronan – o jornalista que fez várias revelações sobre o escândalo de Harvey Weinstein na revista “The New Yorker” – e outros seis de seus irmãos publicaram no domingo um comunicado conjunto apoiando sua mãe.

“Amamos e apoiamos nossa mãe, que sempre foi carinhosa e generosa. Nenhum de nós presenciou outra coisa que não fosse um tratamento compassivo em nossa casa e, por isso, os tribunais garantiram a nossa mãe a guarda total de todos os seus filhos”, apontaram.

Moses Farrow, também adotado e o único dos irmãos próximo a Woody Allen, disse que Mia Farrow era extremamente dura com alguns de seus filhos adotados. Ela negou as acusações.

Na entrevista, Woody Allen também comentou os rumores alimentados por Mia Farrow de que Ronan não seria seu filho biológico, mas o de seu ex-marido Frank Sinatra.

“Na minha opinião, é meu filho”, mas “eu não apostaria minha vida nisso”, disse Allen. “Paguei sua pensão durante toda sua infância, e acho que isso não é muito justo se não é meu filho. Ela também se apresentou como uma mulher fiel, e certamente não era. Se realmente ficou grávida durante um affaire…”.