Milad seguiu na quinta-feira (26) até o aeroporto de Cabul com sua esposa, os três filhos e todos os documentos necessários para embarcar em um avião e iniciar uma nova vida nos Estados Unidos. Mas todos os sonhos se despedaçaram após a primeira explosão.

Um “pânico total” dominou este afegão e milhares de pessoas reunidas nas imediações do aeroporto para tentar fugir do novo regime Talibã a bordo de um dos voos organizados por países ocidentais.

Dois homens-bomba do grupo extremista Estado Islâmico (EI) detonaram seus explosivos na área lotada, um atentado que tinha como alvo os soldados americanos que ainda controlam o aeroporto. Foi um massacre: pelo menos 85 mortos, incluindo 13 americanos, e mais de 160 feridos.

Milad perdeu todos os documentos que permitiram seu embarque em um voo com a mulher e os filhos.

“Não quero voltar ao aeroporto nunca mais. Malditos Estados Unidos, sua retirada e seus vistos”, afirmou.

– À procura de parentes –

As explosões aconteceram no meio da multidão e o impacto jogou dezenas de pessoas nas águas fétidas de uma área de drenagem próxima do aeroporto.

Naquele canal de águas turvas, os corpos se acumularam: vários quase submersos, alguns mortos, outros apenas inconscientes, como a imagem de um homem desmaiado e gravemente ferido que foi salvo do afogamento por outro afegão.

No meio do caos e do banho de sangue, os gritos com pedidos de ajuda ou de pessoas procurando parentes dominaram a região.

Nesta sexta-feira, alguns afegãos continuam sem notícias de seus parentes e procuram as vítimas nos hospitais.

Abdul Mayid busca o irmão, que estava no aeroporto. “Ele queria seguir para o exterior. Não sei se vou conseguir entrar no aeroporto porque os americanos bloqueiam o acesso”, conta.

“Era estudante, tinha talento, mas devido à situação do país ele queria ir embora, como todo mundo”, explica.

“Ele acompanhou uma família ao aeroporto, saiu sem nada, sem documentos. E a explosão aconteceu quando avançavam para a entrada”, completa, angustiado, ao contar que não o encontrou entre as dezenas de feridos e listas de mortos.

Outros chegam ao centro médico a pé, exaustos após uma noite sem dormir, e aguardam notícias.

Um homem sai do hospital com o telefone na mão, mostra uma fotografia do parente que estava procurando e que acabara de encontrar com vida, mas gravemente ferido.

Em uma mensagem publicada nesta sexta-feira no Twitter, o hospital de Cabul administrado pela ONG italiana Emergency, que recebeu dezenas de vítimas, afirmou que a situação continua sendo “bastante crítica”.

“Nossas três salas de cirurgia funcionaram a noite toda”, completou a mensagem. “Temos pessoas no CTI”.

– Final da contagem regressiva –

Outros afegãos deixam o hospital e levam um caixão até uma caminhonete. Em um cenário desolador, eles tentam conter o choro.

A poucos dias da saída das tropas estrangeiras do Afeganistão, em 31 de agosto, e portanto dos voos de retirada em larga escala, muitos afegãos ainda tentam fugir do país.

Desde meados de agosto, quando os talibãs entraram em Cabul e retomaram o poder, mais de 100.000 pessoas foram retiradas do país.

Na quinta-feira, os cidadãos, desesperados, ignoraram as advertências de vários países ocidentais sobre o risco iminente de um atentado na área do aeroporto de Cabul e seguiram em direção ao local, na esperança de conseguir vaga em um avião.