Sonho e pesadelo: o drama dos estudantes brasileiros com o aluguel em Portugal

Sonho e pesadelo: o drama dos estudantes brasileiros com o aluguel em Portugal

Estudantes brasileiros que vivem em Portugal enfrentam uma severa crise de moradia. Nos últimos três anos, o preço médio para alugar um quarto no país registrou um aumento de 50%, saltando de € 275 mensais em 2022 para € 415 em 2025 – valor que ultrapassa o equivalente a R$ 2,5 mil. A escalada dos preços representa um desafio financeiro e logístico para os mais de 11 mil universitários brasileiros que residem em território português.

  • Aumento expressivo: Preço médio de um quarto subiu 50% em três anos.
  • Impacto financeiro: Aluguel consome mais da metade do orçamento dos estudantes.
  • Alta concorrência: Grande procura gera competição acirrada e exige decisões imediatas.
  • Riscos e informalidade: Relatos de golpes e contratos sem registro são comuns, com cobranças extras para formalização.

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O impacto no orçamento é direto. “O aluguel é praticamente mais da metade do meu orçamento aqui no Porto”, afirma o estudante Angelo Gomes Pescarini, que chegou à cidade em 2023 para cursar ciências da computação. Ele relata que, em seu primeiro ano, pagava € 575 para morar em uma residência estudantil, mas o valor subiu drasticamente. “Hoje, o mesmo quarto que eu morei já está por mais de € 700. Acredito que tenham coisas lá por quase € 900”, calcula.

Atualmente, Angelo divide um apartamento com outros dois estudantes, pagando € 400 por um quarto em uma área que, segundo ele, é vista com ressalvas por moradores locais. “Para todas as pessoas que eu falo que moro perto da região da Pasteleira, imediatamente já falam que é ponto de droga, de crime. Acho que isso altera o valor do imóvel”, pontua.

A busca por um novo lar foi marcada pela alta concorrência. “Mandei mensagem para mais de 100 pessoas para conseguir dez respostas e duas visitas. Se você visitou uma casa que quer, é fechar o contrato no final da visita, não tem um dia de espera”, conta Angelo.

A dificuldade é compartilhada por Gabriela Carvalho, que chegou ao Porto neste semestre para um mestrado em oncologia. “Eu cheguei a visitar dez quartos num dia. Vi várias pessoas pedindo o valor antecipado para você poder apenas visitar um local, e isso não se faz”, denuncia.

Gabriela encontrou preços acima do esperado, variando de € 370 a mais de € 600 por um quarto. Ela também destaca o problema da informalidade. “A maioria dos relatos que eu escuto é o problema de não fazerem contrato. Não vão estar declarando [impostos] e, se quiserem fazer o contrato, tem um acréscimo de 28% sobre o preço”, explica. A situação se tornou tão crítica que inviabilizou o sonho de muitos. “Eu conheço casos de pessoas que deixaram de vir para a universidade porque não conseguiam achar casa”, ressalta.

O Porto está entre as cidades com o aluguel mais caro, com média de € 400 por um quarto. O recorde pertence à capital, Lisboa, onde o valor médio atinge € 500 – mais da metade do salário mínimo de Portugal, fixado em € 870.

O cenário, segundo os estudantes, também afeta a população local. “Eu vejo que isso também é uma dificuldade muito grande para os portugueses, cada vez mais, porque a procura é maior”, observa Gabriela. A explosão nos preços está ligada à baixa oferta de imóveis diante da alta demanda de turistas e imigrantes, transformando o sonho de estudar na Europa em um desafio financeiro para muitos brasileiros.