Há causas e causas de morte – e a intensidade da dor acompanha os graus de imprevisibilidade e perplexidade dentro dos quais ela nos leva os familiares queridos. Existe assim, na vida, um limite do suportável para a perda e o luto. Quando tal limite é rompido vem a exasperação dos que ficam diante do irrecuperável vazio em relação aos que partem. Relativiza-se um sonho não realizado em vida, mas é absoluta a dor de sonhos desfeitos pela morte. E por isso choram, hoje, os familiares da advogada brasileira Fabíola Bittar de Kroon, que a perderam na quinta-feira 29 num estúpido e absurdo acidente de trem. Falou-se, acima, dos limites do imprevisível e do espanto. Fabíola, 34 anos, casada com o holandês Daan de Kroon, mãe de uma menininha de um ano, mudara-se para os EUA havia poucos meses. Ela estava na plataforma da estação de Hoboken, em New Jersey, quando um trem chocou-se contra essa plataforma. Cem pessoas se feriram. Parte do teto da estação veio abaixo. Um desses destroços a atingiu – e a matou. A sua mãe, Sueli Bittar, disse em seu desconsolo que a filha fora à estação porque lá embarcaria para Nova York em busca de um apartamento mais perto do local de trabalho de seu marido e também com escola próxima para a bebê. O sonho maior de Fabíola, nascida na cidade paulista de Santos, era completar o seu mestrado e advogar nos EUA. Um trem bate numa plataforma na qual Fabíola estava dentro da área de segurança permitida; um pedaço do teto da estação cai e a atinge na cabeça. Esse sonho, e todos os outros, morrem como se nunca tivessem sido sonhados.