José Vicente foi bóia-fria, vendedor de biscoito de porta em porta, açougueiro e trabalhou num ferro-velho. Formou-se em Direito, foi delegado, fundou uma faculdade – Zumbi dos Palmares – e hoje se tornou uma das pessoas mais influentes do Brasil.

Na última sexta-feira (31), ele foi o convidado da live de Istoé. Na entrevista aos jornalistas Fernando Lavieri e ao editor de comportamento da revista, Vicente Vilardaga, ele revisitou a história do negro no país, do passado escravocrata aos dias atuais, falou sobre a pandemia do novo coronavírus, analisou o cenário político da educação e mergulhou, com profundidade, no comportamento social brasileiro, em especial na observação sobre a questão racial, a luta contra o preconceito e o racismo estrutural.

“Somos uma sociedade racista, autoritária, violenta, patrimonialista e clientelista – talhada, produzida e reproduzida sobre o fundamento do racismo”, avalia.

Como advogado criminalista nos anos 1990, ajudou – com amigos -, a conseguir bolsas de estudos para jovens negros e defendeu juridicamente tantos outros negros que foram acusados, injustamente, da prática de crimes. Em 1997 articulou a construção de uma ONG, a Afrobras. Sua consciência crítica e a militância aproximou-o de movimentos negros e o impulsionou, com seu grupo, a discutir e elaborar formas de incluir a população negra também nos espaços educacionais.

Do desejo de criar um instituição de ensino superior que prestigiasse a história e a cultura negra e que contribuísse com a qualificação superior dos jovens negros do Brasil surgiu a Faculdade Zumbi dos Palmares. A faculdade, que ele preside há quinze anos, formou milhares de pessoas negras.

“A Zumbi radiou a onda de transformações de atitude dos negros no país”, lembra.

Diante de uma crise sanitária que arruína o mercado de trabalho, a renda e os negócios, Vicente descreveu como a pandemia tem impactado a educação.

“A pandemia é um meteoro que produziu malefícios terríveis, em todas as dimensões da vida social”, pondera.

Mas, adverte ele, que os danos mais terríveis, agressivos, estão sendo produzidos na periferia social.

“O impacto é aterrorizador, de dano colateral incalculável”, afirma e completa: “A gente se defronta de novo com o mesmo desafio, de ser amedrontados diante dos coturnos, de joelhos para o próprio Estado.” Para ele, as pessoas e as instituições devem se juntar e dizer um “basta” contra o racismo.