Almeida não é espécime rara. No Brasil, tem de baciada. Gente como Almeida diz pensar no coletivo, mas se lixa para o indivíduo nele inserido. Adora pobre, mas tal como Caco Antibes e Justo Veríssimo, bem longe do alcance de sua retina. Diz-se vítima das elites, mas passou a vida sendo sustentado por ela. Ah, como deve ser bom confortar a mente com utopias incapazes de serem aplicadas na vida real.

Almeida é um cara bem legal, pena que não pode ver mulher. No Planalto e na planície, sempre posou de defensor ardoroso das integrantes do sexo feminino. Na primeira oportunidade, porém, veio a ferroada do escorpião. Encarnou Schopenhauer, para quem a mulher não seria destinada nem aos grandes trabalhos intelectuais nem aos materiais: usou seu cartapácio para disseminar enredo recheado do machismo mais rastaquera.

Nenhum escrúpulo de delicadeza o deteve no arremesso à honra e aos recessos mais íntimos do lar. O outro lado, essencial para o bom exercício da profissão, forneceria embasamento para evitar o ferimento de inocentes. No fundo, nem ele próprio acreditava no que despejou naquelas páginas infames. Mas Almeida não abriu mão de apimentar sua narrativa com ingredientes lúbricos. Um legítimo Thomas Sowell, embora este provável e infelizmente não figure em sua estante: “quando você quer ajudar as pessoas, conte a verdade. Quando quer ajudar a si próprio, conte o que elas querem ouvir”.

Ora, indagaria o incauto leitor, estaria Almeida em pleno exercício do duplipensar? “Saber e não saber, ter consciência de completa veracidade ao exprimir mentiras cuidadosamente arquitetadas, defender simultaneamente duas opiniões opostas, sabendo-as contraditórias e ainda assim acreditar em ambas”. A bem da verdade, não há nada de duplipensar em Almeida. Faltou-lhe não só grandeza de espírito, como grandeza de talento. Diria o estadista: há insultos que dignificam e solidariedades que comprometem. Vindo de você, Almeida, nem um nem outro.