O jornalista Miguel Urbano Rodrigues (1925-2017) incentivou filho adolescente, Sérgio, a passar férias no Alentejo natal, para conviver com os camponeses da região mais vasta e pobre de Portugal. Sérgio Tréfaut, nascido em São Paulo em 1965, emigrou para Portugal e se tornou cineasta. Seu documentário “Alentejo, Alentejo” (2014) fez com que voltasse no tempo. “Então planejei um longa de ficção ambientado naquele local marcado por conflitos ancestrais entre camponeses e donos de terra”, diz à ISTOÉ. Para criar o filme “Raiva”, baseou-se no romance “Seara de vento” (1958), de Manuel da Fonseca (1911-1993), amigo do pai. A narrativa ambienta nos anos 1950 a Tragédia de Beja, chacina de camponeses ocorrida em 1932. Tréfaut cortou personagens e recriou o local do conflito. Inspirou-se em três clássicos para converter a trama em um filme “arquetípico”, que poderia se passar em lugares como Grécia, Itália e Brasil. Simulou efeitos sombrios em preto e cinza, com a ajuda do diretor de fotografia Acácio de Almeida, parceiro de Manoel de Oliveira. O resultado é fascinante. “Raiva” se alinha à onda dos filmes digitais em preto e branco, como “Roma” e “Guerra Fria”. Estreia: 7/3.

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