O momento de votar é o único, em toda a nossa vida humana, no qual todos os homens se equivalem em poder. Nesse momento fundador, todos os cidadãos têm a mesma importância, dividindo entre si, de maneira igualitária, a responsabilidade pelo futuro. Essa é a grande conquista — e a grandeza — da democracia: ter garantido um momento, único e fundador, em que todos os homens são iguais perante o poder. Tais períodos são raros, representam o que de melhor tem o ser humano e apenas acontecem quando ele consegue escapar ao conflito que lhe é naturalmente intrínseco. Elaborando de forma mais terrena sobre a importância de votar, lembro aquela história de um professor universitário de Economia que, embora fosse conhecido por raramente reprovar um aluno, em certa ocasião reprovou a turma inteira.

Esta turma em particular, tinha insistido com o professor que uma determinada visão política, que reclamava que ninguém seria pobre ou rico e tudo seria igualitário e “justo”, realmente funcionava. O professor torceu o nariz e disse “Ok, então vamos fazer uma experiência aqui na turma, mas, ao invés de dinheiro, usaremos as vossas notas nos exames”. Todas as notas seriam concedidas com base na média da turma e, portanto, seriam “justas”; todos receberiam as mesmas classificações, e ninguém tomaria bomba; mas, claro, também ninguém receberia os 20 pontos da nota máxima. Assim sucedeu e, logo que a primeira média foi calculada, todos receberam 14 pontos. Quem estudou com dedicação ficou indignado, achando que merecia mais; e os que não se esforçaram ficaram felizes, pois nunca esperaram tanto!

Essa experiência “política” falhou porque foi baseada na preguiça e na lei do menor esforço, e delas apenas resultam mágoas e conflitos

Quando a segunda prova aconteceu, os preguiçosos estudaram ainda menos porque pensaram tirar notas boas de qualquer forma, e os que tinham estudado muito no início, no espírito da tal justiça, também quiseram se aproveitar da média geral: agindo contra os seus princípios, copiaram os hábitos dos preguiçosos. A média baixou para 10. Ninguém gostou, todos protestaram, mas a terceira prova foi ainda pior: a média geral foi um vergonhoso 5 porque, afinal, ninguém quis estudar para beneficiar quem só queria sombra e água fresca. Resultado: todos reprovaram. Esta experiência “política” falhou porque foi baseada na preguiça e na lei do menor esforço, e delas apenas resultam mágoas e conflitos. Quando a recompensa é grande, o esforço pelo sucesso é grande, mas quando se eliminam as recompensas — retirando, sem consentimento, valor aos que se esforçam para o distribuir por quem nada fez, então o fracasso é inevitável.