O Paquistão, uma república islâmica de 240 milhões de habitantes que possui armamento nuclear, celebra eleições legislativas na quinta-feira (8), um pleito que tem a credibilidade questionada por algumas pessoas após a detenção do popular ex-primeiro-ministro Imran Khan.

Tudo aponta que Nawaz Sharif, de 74 anos e que retornou ao país em outubro do ano passado, após quatro anos de exílio, vencerá a eleição. Se o resultado for confirmado, ele ocupará o cargo de primeiro-ministro pela quarta vez, como líder da Liga Muçulmana do Paquistão (PML-N).

O país se apresenta como a quinta maior democracia do mundo, apesar da repressão contra Imran Khan e seu partido, ‘Pakistan Tehreek-e-Insaf’ (PTI).

O ex-jogador de críquete, que liderou o Paquistão na conquista de seu único título mundial na modalidade em 1992, continua sendo, aos 71 anos, um ídolo da juventude paquistanesa. Na semana passada, ele recebeu duas condenações, com penas de 10 e 14 anos de prisão por corrupção e traição. Além disso, a justiça declarou seu terceiro casamento ilegal.

Porém, Khan, inelegível na votação de 8 de fevereiro, está longe de ser a primeira personalidade afastada de uma disputa eleitoral no Paquistão, país em que nenhum primeiro-ministro conseguiu concluir seu mandato e onde a prisão geralmente é uma etapa obrigatória para os políticos.

Ainda assim, o rigor com que as autoridades trataram Khan não era observado há muito tempo no país, que passou mais de três décadas sob regime militar.

“Tenho certeza de que (o Exército) está preocupado”, declarou à AFP o analista Shuja Nawaz, que considera que o PTI está em condições de obter “um número bastante importante (de cadeiras) e continuar com peso no plenário”.

O país é governado desde agosto por um primeiro-ministro interino, Anwaar ul Haq Kakar.

– Insegurança e inflação –

O cenário da segurança no Paquistão, que tem uma posição estratégica entre Afeganistão, China, Índia e Irã, piorou desde o retorno do Talibã ao poder no Afeganistão em agosto 2021.

No fim de janeiro, a tensão aumentou com o vizinho Irã, com uma série de bombardeios mútuos contra posições de grupos rebeldes.

Na área econômica, Islamabad ficou perto do ‘default’ no ano passado, mas conseguiu evitar a falta de pagamentos graças a um novo pacote do Fundo Monetário Internacional (FMI) e a empréstimos de países amigos, como China, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

A rupia desvalorizou quase 50% desde 2021 e a inflação, de quase 30%, é insuportável para a população.

As eleições de quinta-feira foram adiadas por vários meses, oficialmente para redefinir as circunscrições após o último censo. Porém, analistas apontam que foram remarcada spara que o Exército conseguisse preparar o terreno e obter um resultado favorável.

– A influência dos militares –

Imran Khan atribui seus problemas com a Justiça ao Exército. Em 2022, ele acusou as Forças Armadas de uma ação nos bastidores para promover sua expulsão do poder. E tudo isto, apesar de ter beneficiado os militares para conseguir a reeleição em 2018.

Mas suas posições contra a classe dominante acabaram levando a uma repressão intensa contra o PTI, alvo de uma onda de prisões e deserções forçadas. Além disso, a legenda não foi autorizada a fazer campanha nas ruas.

Com um PTI reduzido, o PML-N chega às legislativas como favorito.

Seu líder, Nawaz Sharif, que já foi preso também, retornou ao Paquistão depois de passar quatro anos exilado em Londres. Desde então, várias de suas condenações por corrupção foram anuladas.

O político veterano havia acusado os militares de terem orquestrado as acusações para afastá-lo das eleições de 2018. Agora, ele parece contar com o apoio das Forças Armadas.

“Nenhum partido conseguirá maioria absoluta”, disse Michael Kugelman, analista do Wilson Center de Washington. Ele considera que será necessário formar uma coalizão que “provavelmente será frágil, sob forte influência do Exército”.

O PML-N talvez seja obrigado a formar uma coalizão com o Partido do Povo Paquistanês (PPP), liderado por Bilawal Bhutto Zardari, filho da ex-primeira-ministra assassinada Benazir Bhutto e do ex-presidente Asif Ali Zardari.

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