Solidão cresce na Alemanha, e afeta gente de todas as idades

Um em cada cinco no país se vivem sozinhos, aumento de 22% em duas décadas. Solidão impacta adolescentes, idosos e cada vez mais pessoas de meia-idade.Há três anos, Felix Wunnike percebeu que havia conquistado de vez o público jovem. Sempre que o psicólogo organizacional publica vídeos em sua conta no TikTok sobre "fazer amigos", seus seguidores reagem instantaneamente.

"Mesmo que eu apenas dissesse no vídeo 'envie o vídeo para o seu melhor amigo', o comentário com mais curtidas era sempre algo como: 'Eu não tenho amigos'. Percebi entre meus seguidores muito jovens que uma grande parte deles se sente muito solitária e diz que realmente não tem amigos. Isso me chocou pessoalmente."

De acordo com um estudo recente da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada seis pessoas no mundo sofre de solidão. Entre os adolescentes, um em cada cinco. Enquanto os adultos têm, por causa disso, mais dificuldade em encontrar ou manter um emprego, os mais jovens têm maior probabilidade de tirar notas mais baixas. Wunnike, que agora escreveu um guia intitulado Alles, was du übers Freunde finden wissen musst (Tudo o que você precisa saber sobre como fazer amigos, em tradução livre), cita dois motivos para essa tendência:

"Por um lado, a covid e o que ela fez a todos nós; por outro, as redes sociais. Apesar de todos os aspectos positivos, é importante para mim alertar também sobre as desvantagens e os perigos, nomeadamente o de nos esquecermos da vida real. Quando assistimos aos stories do Instagram dos nossos conhecidos e, ao mesmo tempo, negligenciamos a construção de amizades na vida real."

Mais suscetíveis a apoiar autoritarismo

Claudia Neu analisou detalhadamente os jovens que procuram aconselhamento psicológico contra a solidão com Felix Wunnike, concentrando-se na questão do que acontece quando os jovens se deixam levar politicamente pela solidão. A socióloga liderou o estudo Extrem einsam (Extremamente solitário, em tradução livre), que examinou a ligação entre solidão e atitudes antidemocráticas entre jovens na Alemanha.

"Sobretudo jovens de 16 a 23 anos são mais suscetíveis a teorias da conspiração e ao apoio à violência política. É importante ressaltar que encontramos uma correlação estatística, mas isso não equivale a uma relação causal. Nem toda pessoa solitária vota na [legenda alemã de ultradireita] AfD, assim como nem todo eleitor da AfD experimenta níveis elevados de solidão."

Frequentes alvos de discriminação.

Einsamkeit und Ressentiment (Solidão e ressentimento, em tradução livre) é o título do livro que Neu escreveu recentemente sobre o tema. Sua tese: quando as pessoas não se sentem mais conectadas à sociedade e, ainda mais perigosamente, reagem com ressentimento, isso tem o potencial de colocar a democracia em risco. Pessoas solitárias são inicialmente vítimas e sofrem discriminação com muito mais frequência do que pessoas que não se sentem solitárias.

"Elas sofrem constantemente rejeição, por exemplo em um churrasco onde mais uma vez não conseguem conhecer ninguém e voltam para casa sozinhas. E esse tipo de rejeição pode desencadear ressentimento. Esse também é o cerne do ressentimento: você experimentou um sofrimento que acreditava ser injusto, mas não consegue se livrar dele, fica irritado com isso, culpa os outros e, por fim, fica amargurado."

Moradia é fator que influencia

A socióloga Claudia Neu, que ocupa há quase 10 anos a cátedra de sociologia rural nas universidades alemãs de Göttingen e Kassel, lembra que a situação da moradia, a localização e, principalmente, as condições de vida podem impulsionar a solidão, já que as pessoas dependem de encontros e comunicação.

"Se faltam essas oportunidades de encontros, por exemplo, se o parque, área verde ou instalação recreativa mais próximo estiver a mais de 20 minutos de casa, o risco de solidão aumenta significativamente", afirma Neu.

A especialista também ressalta que pessoas cronicamente solitárias percebem os espaços de forma diferente. "Elas veem seu ambiente como mais escuro e menos seguro, sentem-se menos confortáveis, tanto em espaços públicos quanto privados. E são menos propensas a acreditar que sua comunidade pode se organizar bem."

De acordo com uma pesquisa recente da Techniker Krankenkasse (TK), uma das maiores seguradoras do sistema de saúde da Alemanha, cerca de 60% das pessoas no país relatam se sentirem solitárias com frequência, às vezes ou raramente em suas vidas privadas. No entanto, ao mesmo tempo, cada vez mais pessoas no país buscam isolamento: de acordo com o Departamento Federal de Estatística (Destatis), 17 milhões de indivíduos vivem sozinhos na Alemanha – pouco mais de uma em cada cinco pessoas. Isso representa um aumento de 22% nas últimas duas décadas. Para o socióloga, a crescente individualização social tem aspectos positivos e negativos.

"Por um lado, as pessoas têm mais liberdade de escolha em seus relacionamentos. Um relacionamento infeliz é muito mais fácil de terminar hoje do que no passado. Por outro lado, términos frequentemente evocam sentimentos de perda, e estar sozinho também traz o risco de isolamento. No entanto, eu seria cautelosa ao estabelecer uma conexão direta entre viver sozinho e solidão."

Pessoas de meia-idade são mais solitárias que idosos

Até agora, cientistas e especialistas concordam em pelo menos um ponto: aposentados correm maior risco de solidão. Seu parceiro pode ter falecido, amigos podem ter falecido, e a família pode estar amplamente dispersa.

Mas um estudo recente do Centro Alemão de Gerontologia pinta um quadro mais sutil. De acordo com a sondagem, pessoas entre 43 e 65 anos se sentem mais solitárias do que as que estão na velhice. A ministra alemã da Família, Karin Prien, afirma: "A solidão não afeta apenas os idosos – ela também é generalizada na meia-idade, frequentemente invisível e subestimada."

"Estudos passados com gerações anteriores mostraram de fato que a idade avançada também está associada a uma maior solidão", diz Stefan Stuth, coautor da pesquisa intitulada Solidão na Segunda Metade da Vida. "Isso agora mudou ao longo das gerações. Na idade da aposentadoria, a norma de que se deve estar empregado não se aplica mais. Não existe mais um estigma que leve ao sofrimento psicológico", acrescenta.

Riqueza e pobreza são fatores-chave

Em contraste, esse nível de sofrimento é sentido por pessoas na meia-idade que não estão empregadas. A vergonha do desemprego, aliada à falta de um trabalho significativo e de um senso de identidade, pode levar as pessoas a um isolamento social mais ou menos autoimposto, explica o cientista do Centro Alemão de Gerontologia. No entanto, a maior influência na solidão é a pobreza.

"Quanto menor a renda familiar, maior a solidão. Pessoas com baixa renda e poucos recursos financeiros têm menos oportunidades de participar da vida social. Isso, por sua vez, promove o isolamento social. Soma-se a isso a avaliação subjetiva da própria situação financeira, que tem um impacto negativo no bem-estar psicológico."