ROMA, 26 FEV (ANSA) – Soldados da Eritreia assassinaram “centenas de civis” no estado de Tigré, norte da Etiópia, em um massacre que pode constituir crime contra a humanidade, denunciou a ONG Anistia Internacional nesta sexta-feira (26).   

A notícia chega três meses depois da ofensiva movida pelo Exército etíope contra um grupo rebelde nessa região na fronteira com a Eritreia. “As evidências são convincentes e apontam para uma conclusão assustadora”, disse o diretor regional da Anistia para o Leste e o Sul da África, Deprose Muchena.   

A ONG de defesa dos direitos humanos usou depoimentos de 41 testemunhas e imagens de satélite para reconstituir os eventos na cidade histórica de Axum, cujas ruínas são Patrimônio Mundial da Humanidade da Unesco.   

“Tropas etíopes e eritreias conduziram múltiplos crimes de guerra em sua ofensiva para tomar o controle de Axum. Além disso, tropas eritreias mataram sistematicamente centenas de civis a sangue frio, no que parece constituir crimes contra a humanidade”, acrescentou Muchena.   

Segundo ele, tratam-se de algumas das “piores atrocidades documentadas até hoje nesse conflito”. Tigré era governado pela Frente de Libertação do Povo de Tigré (TPLF), que se insurgiu contra o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, vencedor do Nobel da Paz em 2019 por causa do acordo de paz que encerrou uma disputa de décadas com a Eritreia.   

Além de questionar Ahmed pelo adiamento das eleições de agosto do ano passado devido à pandemia, a TPLF, que foi dominante na política etíope até a ascensão do atual premiê, em 2018, diz ter sido marginalizada no governo federal e é contra o acordo de paz com a Eritreia.   

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Tanto Adis Abeba quanto Asmara negam o envolvimento de tropas da Eritreia no conflito. No entanto, segundo testemunhas ouvidas pela Anistia Internacional, militares eritreus promoveram “pilhagem generalizada de propriedades de civis e execuções extrajudiciais”.   

O auge da violência em Axum, segundo a Anistia, ocorreu após uma milícia pró-TPLF ter atacado uma base militar em 28 de novembro.   

“Os soldados eritreus vieram à cidade e começaram a matar aleatoriamente”, disse um homem de 22 anos.   

“Eu vi um monte de gente morta nas ruas”, disse outra testemunha, um indivíduo de 21 anos. A Anistia afirma ter coletado o nome de 240 vítimas, mas não pôde verificar o número de mortos de forma independente.   

“Moradores estimam que várias centenas de pessoas foram enterradas após o massacre”, diz o relatório, que apresenta imagens de satélite de enterros coletivos perto de duas igrejas.   

A ONG ainda cobrou uma investigação guiada pelas Nações Unidas (ONU) sobre as violações em Axum. (ANSA).   


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