Talvez venha da netinha de João, Sofia Gilberto, a maior homenagem ao avô hoje, 10 de junho, o dia em que ele faria 90 anos. Sofia tem cinco anos e meio e, conforme conta a mãe Adriana Magalhães Hoineff, mulher do filho do cantor, João Marcelo, é um ser em plena expansão artística. Sofia já tem mais de trinta composições criadas e tocadas de ouvido, no mais puro instinto, com melodias e rimas ajustadas ao mesmo tempo. “Ela nunca teve aulas de instrumentos, nem piano nem violão”, diz Adriana.

Depois de ligar para o japonês Hideki Nakajima, autor do songbook de João Gilberto lançado no Japão, para pedir para ter aulas de violão com ele, a pequena Sofia acabou recebendo de presente um violão japonês.

O afeto da neta com o avô, maior do que o pouco tempo físico que estiveram juntos, está no centro de uma série a ser exibida pelo canal Music Box, ainda sem data de estreia. O programa Do Som à Arte vai traçar um panorama da bossa nova, “revisando seus primórdios, refletindo sobre seu impacto no Brasil e no exterior e apontando seus desdobramentos e novos caminhos”, segundo um texto a respeito do projeto. João será um dos nomes reverenciados pelo especial, mas não o único. Os 13 programas de 25 minutos cada contarão com entrevistas feitas por Sofia Gilberto e o apresentador Ulrich Malohlava. As camisetas usadas para ilustrar o cenário e o tema de abertura do programa são criações de Sofia.

Adriana conta que mais de 70 artistas já foram entrevistados para o projeto. “Eles abriram seus corações e nos contaram casos e histórias incríveis, inéditas e históricas.” Dentre os escolhidos, aparecem Bernardo Lobo, Roberto Menescal, Paulo Jobim, Marcos Valle, Wanda Sá, Vanessa da Mata, Quarteto do Rio (os 4 integrantes), Alaíde Costa, Claudette Soares, João Donato, Jaques e Paula Morelenbaum, o pianista João Ventura, que toca com Madonna, Ayrton Montarroyos, Vanessa Moreno, Filó Machado e seu neto, o grande violonista Felipe Machado, Antonio Adolfo, Osmar Milito, Marcos Ariel, Tiago Nacarato, Toninho Horta, Zé Renato, Victor Biglione e nomes do Japão, EUA, Austrália e Canadá.

Com Sofia no colo, Adriana envia à reportagem um vídeo pelo WhatsApp, não para ser divulgado, mas para responder ao lado da filha algumas perguntas. A mãe diz: “a nossa sensação é de dar continuidade à bossa nova. A Sofia só dorme escutando o avô… ‘Mãe, bota o vovô’, ela pede.

“Bossa nova pra gente é uma questão maior, mais de alma do que de música, e queremos muito dar continuidade com isso.” Ela passa a fala para a filha, e Sofia diz com um tom sério: “eu quero seguir a bossa nova.” Ela começa a responder aos estímulos de seu redor. Uma canção enviada à reportagem, mas sem autorização para ser publicada, mostra Astrud Gilberto, 81 anos, avó de Sofia, a primeira mulher de João e reclusa da vida artística há anos, cantando para a neta uma bela melodia.

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João e Sofia não tiveram tempo de serem parceiros – o destino não esperou e levou o avô em 2019. Mas esse dueto parece acontecer agora, nas criações que fazem a neta encontrá-lo tão nitidamente dentro de si. Uma das composições de Sofia, escutada e cantada pelo avô nos seus últimos anos de vida, diz o seguinte: “Dorme passarinho, tão pequenininho / fecha o biquinho e fica bem quietinho / Dorme passarinho, no seu travesseirinho / fecha o olhinho / e fica lá no ninho.” Para João, uma pérola do mesmo brilho de “O pato / vinha cantando alegremente, quém! quém! / Quando um marreco sorridente pediu / Para entrar também no samba, no samba, no samba.”

João era um apaixonado por letras e melodias da primeira infância. Afinal, o que são as primeiras partes de Bim Bom, O Barquinho, Garota de Ipanema, Bolinha de Papel e Lobo Bobo? A gente é que teoriza, estuda e tenta decifrar. João, no fundo, era como Sofia: só queria cantar sobre aquilo que o emocionava.


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