Em meio ao embate com o presidente do Banco Central, a alta do dólar e os conflitos com o Congresso, Lula encontrou, na última pesquisa Datafolha, um motivo para comemorar. A curva negativa na avaliação do governo, que vinha se desenhando desde o final do ano passado, cedeu lugar a uma tímida ascensão. Embora as variações apontadas pela pesquisa estejam dentro da margem de erro, o levantamento traz dados que ilustram os fatores-chave para um ‘respiro’ do Planalto: a expectativa dos brasileiros em relação à economia e o aumento da aprovação do governo no Rio Grande do Sul.

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No contexto econômico, os questionamentos sobre a política fiscal não parecem ter impactado a avaliação popular: 40% dos brasileiros acreditam em uma melhora na economia, enquanto 27% esperam estabilidade e 28% preveem piora nos índices. Quanto ao Rio Grande do Sul — tradicionalmente um estado onde Lula enfrenta resistência —, pela primeira vez desde o início do mandato os índices de avaliação “bom” e “ótimo” (36%) superam os de “ruim e péssimo” (33%).

Na análise de Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper, a ligeira melhora na popularidade do governo reflete o que ele chama de “tímida melhora da economia” — esta puxada pelo aumento de 0,8% do PIB no primeiro trimestre, o recuo do desemprego e uma inflação que, ainda que afete certos segmentos, se mostra controlada.

“O governo está se beneficiando desses sinais positivos na economia e sociais, mas não sabemos por quanto tempo isso perdurará. Da mesma forma, se a população perceber uma deterioração nesses indicadores, isso poderá afetar significativamente a aprovação do governo, especialmente em um ano eleitoral como 2024”, avalia.

Bruno Bolognesi, cientista político, professor da UFPR, destaca as iniciativas federais de auxílio ao Rio Grande do Sul, estado que abriga 15% do eleitorado brasileiro, como determinantes para a mudança na popularidade do chefe do Executivo.

“É um território onde o presidente Lula historicamente enfrenta dificuldades de crescimento e mantém baixa aprovação, exceto em 2002, quando foi eleito pela primeira vez. Se olharmos a geografia do país e observarmos onde temos alteração significativa, é justamente no Sul. Isso está muito ligado à atuação do governo na situação das enchentes, à atuação do Exército e do Ministério da Economia.

Leandro Consentino também recorda 2020, quando o governo Bolsonaro experimentou uma melhora considerável na avaliação após implementar o auxílio emergencial no período mais crítico da pandemia de Covid-19.

Se comparados os períodos, o desempenho do governo Lula se assemelha ao de Bolsonaro apresentava ao final do primeiro ano de mandato. Enquanto Bolsonaro registrava 32% de avaliação ótima/boa, Lula alcança 36%, embora com uma reprovação maior — 44% e 31%, respectivamente.

O Datafolha entrevistou 2.008 eleitores maiores de 16 anos em 113 municípios brasileiros, no período de 4 a 13 de junho. A margem de erro geral da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou menos, e o nível de confiança é de 95%.