16/04/2021 - 6:32
Nocauteada, mas não derrotada. A sociedade civil envolvida no combate às mudanças climáticas está mais uma vez se mobilizando para os próximos grandes eventos internacionais, depois que a pandemia interrompeu suas ações e empurrou suas demandas para segundo plano.
O surgimento da pandemia da covid-19 no final de 2019 coincidiu com um ponto alto da militância cidadã: dezenas de milhares de pessoas, principalmente jovens, começaram a sair regularmente às ruas de todo o planeta para exigir que os governos tomassem medidas contra o aquecimento global.
“A pandemia começou justamente quando a mobilização estava no auge”, afirma Nicolas Haeringer, da associação internacional 350.org. Os jovens sentiram “a necessidade de se reunir, de se mobilizar nas ruas”, ressalta Sébastien Duyck, da ONG CIEL.
O movimento se adaptou e centrou sua luta na internet, perdendo visibilidade e adeptos ao mesmo tempo.
Mas, segundo Haeringer, não foi uma perda de tempo.
“A pandemia permitiu reequilibrar” o movimento internacional “e construir verdadeiras lideranças nos países do Sul”, explica Haeringer, após o surgimento de figuras como Vanessa Nakate, de Uganda.
Até então, o rosto mais conhecido da luta pelo clima era a adolescente sueca Greta Thunberg e seu movimento Fridays For Future, que personifica sobretudo a juventude europeia.
“Foi difícil para os movimentos” de cidadãos, reconhece Clare Farell, cofundadora da Extinction Rebellion, que promove a desobediência civil.
“Estamos ansiosos para retomar nossas ações no espaço público, conhecer novas pessoas e reconstruir esses movimentos”, completa.
– Novas formas de ativismo –
Nos Estados Unidos, “o movimento não desiste, mas a tática das greves climáticas” que era comum nos centros escolares antes da pandemia, “não é a forma dominante de ativismo no momento e pode não voltar”, observa Dana Fisher, da University of Maryland, nos Estados Unidos.
Os jovens militantes daquele país também estiveram envolvidos em outras causas, como o combate ao racismo ou durante a campanha presidencial. “Hoje existe o Sunrise, o grupo mais ativo de jovens (…) que ajuda as minorias étnicas a se vacinarem contra a covid-19”, acrescenta Fisher.
Para alguns, a motivação permanece intacta.
“Ainda estamos conectados, é ótimo. Acho que haverá uma mobilização dos jovens”, independentemente do formato que isso adquirir, argumentou à AFP o boliviano Michel Villarreal, de 18 anos, estudante de Direito.
A cúpula virtual sobre o clima, organizada para os dias 22 e 23 de abril pelo presidente dos Estados Unidos Joe Biden, pode representar uma primeira etapa, antes de três reuniões cruciais: o congresso mundial da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), em setembro na França, a COP15 sobre biodiversidade na China, em outubro, e a COP26 sobre clima, em novembro no Reino Unido.
Inicialmente, todos esses eventos deveriam ser realizados em 2020.
Algumas associações falam em “reorganizar uma jornada mundial de ação, provavelmente quando o outono (boreal) começar a retomar a iniciativa coletivamente”, segundo Haeringer.
Essa mobilização é fundamental para mostrar aos líderes mundiais “até que ponto é importante” agir rapidamente contra o aquecimento, explica Farell, que lembra que a pandemia também serviu para verificar os efeitos da destruição da natureza, após a covid-19 saltar do animal para o homem.
Mas é difícil prever qual será a resposta dos cidadãos, uma vez que a pandemia continua a assolar o mundo, apesar da chegada das vacinas.
“Será que o movimento jovem vai às ruas novamente em massa para expressar sua vontade de que as coisas mudem a partir de políticas climáticas fortes? Não dá para saber”, observa Amy Dahan, cientista francesa e especialista em mudança climática.
Greta Thunberg já anunciou que não comparecerá à COP26 em Glasgow, “devido à distribuição extremamente desigual de vacinas (…) se a situação continuar assim”.
Porém, para Duyck, “independentemente do que se diga sobre as COPs, este é um momento importante para a sociedade civil se manifestar”.