Os social-democratas alemães aprovaram neste domingo (21), com pesar, o início de negociações formais para a formação de uma coalizão com Angela Merkel, uma decisão que dará garantias à Europa, apesar de o problema da formação de governo estar longe de uma solução.

Já no começo da semana, o Partido Social-democrata (SPD), de Martin Schulz, e os conservadores da chanceler alemã iniciarão as negociações, destinadas a um “contrato de coalizão”, um mapa do caminho para um futuro governo.

Na melhor das hipóteses, o novo Executivo poderia assumir funções em meados de março, ou seja, seis meses depois das legislativas de setembro, nas quais a primeira potência europeia ficou sem maioria clara.

Merkel “saudou” o resultado, ao mesmo tempo em que reforçou que “ainda devem ser resolvidas muitas questões […] ainda há muito trabalho”. Já na segunda-feira serão abordados alguns temas na ordem do dia.

Mas os social-democratas chegarão com pouco entusiasmo às discussões: os delegados do partido deram seu aval às negociações com apenas 56% dos votos de seus delegados.

– “Tivemos que brigar” –

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“A República está nos olhando e sei que gente de toda a Europa olha hoje para o SPD”, disse Schulz, líder social-democrata, pouco antes da votação.

Pouco depois da vitória apertada, se disse aliviado, reconhecendo que “o resultado mostra que tivemos que brigar”.

No entanto, esta votação não significa que a Alemanha será dirigida por uma grande coalizão, como ocorreu entre 2005 e 2009, e entre 2013 e 2017, pois o resultado das negociações entre SPD e CDU/CSU será submetido aos militantes do SPD.

Assim como os delegados, a base do partido está muito dividida sobre a possibilidade de governar novamente sob a batuta da chanceler, no poder há 12 anos.

Para parte da base do SPD, a grande coalizão, denominada “GroKo”, é como um espantalho, pois só a chanceler parece ter tirado proveito desta experiência governamental comum.

O SPD ficou mal parado nas legislativas (20,50% dos votos) e desaba nas pesquisas desde então.

A esquerda do partido consideram que foram feitas concessões demais aos conservadores nos diálogos preliminares de janeiro, especialmente no que diz respeito às questões fiscal, de saúde e imigração.

Schulz prometeu neste domingo negociar as questões com firmeza e permitir fazer um balanço no prazo de dois anos para, se for considerado necessário, deixar a coalizão.

– UE e Merkel, aliviadas –

Merkel, que se reunia na tarde deste domingo com líderes de seu partido, estaria aliviada, pois desde sua vitória eleitoral moderada de setembro, ela fracassou em formar uma aliança com Os Verdes e os liberais.

Se os esforços com o SPD não chegarem a bom termo, Merkel deverá optar por um governo minoritário, frágil por natureza, ou por legislativas antecipadas, o que é arriscado.


Até agora, a chanceler rejeitou as duas possibilidades, diante do temor de que novas eleições deem ainda mais fôlego à AfD (ultradireita), que em setembro teve 13% dos votos, um recorde para esta tendência.

Este partido se beneficiou da preocupação gerada pela abertura do país a mais de um milhão de solicitantes de asilo desde 2015, e fez de uma saída antecipada da chanceler seu principal objetivo.

A decisão de domingo também é um alívio para os parceiros da Alemanha, a começar pela França, e para as instituições europeias.

Após o Brexit e a ascensão da extrema direita e dos antieuropeístas em todo o Velho Continente, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, fizeram uma série de propostas para combater o desapego dos cidadãos.

“Muito boa notícia para uma Europa mais unida, mais forte e mais democrática!”, reagiu no Twitter o alemão Martin Selmayr, chefe de gabinete de Juncker.

“Comemoro o senso de responsabilidade do SPD, que votou a favor da continuação das negociações de coalizão com a CDU/CSU”, tuitou o comissário de Assuntos Econômicos, o francês Pierre Moscovici.

A chanceler alemã e o presidente francês destacaram na sexta-feira, em Paris, o desejo de avançar juntos em questões europeias, uma forma de pressão ao SPD.


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