O destino dos dissidentes que definham nas prisões do Egito gera preocupação há muito tempo, mas um veterano usa sua habilidade política para tentar libertá-los.

Mohamed al Sadat, de 66 anos e sobrinho do ex-presidente Anwar al Sadat, o primeiro governante árabe a alcançar a paz com Israel, tem sido uma presença constante na política egípcia.

Agora se tornou um negociador não-oficial que defende figuras detidas pelo governo do presidente Abdel Fatah al Sissi.

“O diálogo com as instituições do Estado não é um trabalho para uma pessoa só, há muitos outros em contato, mas recentemente estamos conseguindo ser ouvidos”, comentou com a AFP em seu escritório luxuoso em um subúrbio do Cairo.

“Foi eficaz para que alguns casos (de presos políticos) sejam analisados novamente”, acrescentou.

Em julho, 46 presos foram libertados, incluindo ativistas conhecidos, como a advogada dos direitos humanos Mahienour el Massry.

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No entanto, até 60.000 prisioneiros políticos estão nos presídios egípcios, segundo os defensores dos direitos humanos.

Sissi, um ex-chefe militar, tomou posse como presidente em 2014 após liderar o movimento militar que depôs um ano antes o presidente islâmico Mohamed Mursi. Seu governo reprimiu fortemente a dissidência.

Entre os presos por criticarem o governo estão acadêmicos, jornalistas, advogados, ativistas, comediantes, islâmicos, candidatos presidenciais e legisladores.

Mas Sadat se preocupa mais em conseguir uma libertação do que com o motivo que levou os levou à prisão.

“Há muito trabalho nos bastidores dessas agências de segurança, onde são examinados os casos específicos que levantamos, seja a partir de uma perspectiva jurídica ou humanitária”, explicou.

Sob um retrato de seu tio, vencedor do Prêmio Nobel da paz em 1979, Sadat teve o cuidado de não parecer muito crítico à gestão dos direitos humanos de Sissi.

Insistiu que as pressões intermitentes do presidente americano Joe Biden não afetaram a disposição do Egito para melhorar sua questionada situação dos direitos humanos.

“Não concordo que todo (esforço de reforma) venha da pressão internacional ou de um novo governo dos Estados Unidos”, afirmou.

Sissi teve uma relação próxima com o ex-presidente americano Donald Trump, que disse que o líder egípcio fazia “um trabalho fantástico em uma situação muito difícil”, referindo-se ao antiterrorismo e à instabilidade regional.

Por outro lado, Biden prometeu que não dará mais “cheques em branco” para Sissi.

No entanto, depois do papel-chave do Cairo em alcançar uma trégua entre o movimento islâmico palestino Hamas e Israel após seus confrontos em maio, houve uma aproximação com Washington.


Sadat empreendeu um “charme ofensivo”, ao liderar uma delegação de legisladores e figuras da imprensa na semana passada em Washington, segundo uma fonte que compareceu às reuniões.

O diálogo incluiu reuniões com autoridades do Departamento de Estado, centros de estudo, legisladores e ativistas egípcios.

“Sadat não é o chefe. Ele está ali como figura famosa ou personagem ilustre”, comentou a fonte, que preferiu não ser identificada.

“Talvez Sissi queira que o convidem a Washington e este seja o caminho”, acrescentou.


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