MILÃO, 11 JAN (ANSA) – A senadora vitalícia Liliana Segre, sobrevivente do Holocausto, recusou um convite do ex-ministro do Interior da Itália Matteo Salvini para participar de um congresso sobre “novas formas de antissemitismo” que acontecerá em Roma, no próximo dia 16 de janeiro.   

Segre, 89 anos, vive sob escolta de dois policiais após ter recebido ameaças de teor antissemita nas redes sociais em 2019 e virou alvo de críticas da extrema direita por sua luta contra o racismo e o discurso de ódio.   

“Recebi o convite, mas em janeiro estou muito ocupada”, disse a senadora à ANSA. Segundo Segre, ela ficará em Milão durante todo o mês por causa dos eventos ligados ao Dia da Memória, celebrado em 27 de janeiro para lembrar as vítimas do Holocausto.   

A parlamentar acrescentou ainda que “aprecia” a iniciativa da Liga, partido de Salvini, de convocar um congresso sobre o antissemitismo, mas ressaltou que essa luta deve estar sempre aliada à “repulsa ao racismo e ao preconceito que caracteriza as pessoas com base nas origens e características físicas, sexuais, culturais ou religiosas”.   

“Confio que seu congresso poderá dar uma contribuição nesse sentido e que também se poderá fazer uma colaboração na comissão contra o discurso de ódio aprovada pelo Senado, no interesse geral do povo italiano”, concluiu.   

A comissão foi aprovada no fim do ano passado, mas os partidos de direita, incluindo a Liga, se abstiveram na votação. Na época, Salvini, que também é senador, alegou que não queria que “alguns na esquerda” qualificassem como racismo o slogan “os italianos em primeiro lugar”.   

O ex-ministro agradeceu a Segre pela resposta e disse que o evento promoverá uma “grande campanha em defesa de Israel.   

Trajetória – Segre foi nomeada senadora vitalícia pelo presidente Sergio Mattarella em janeiro de 2018. Nascida em Milão, em 10 de setembro de 1930, de uma família laica judia, ela tinha apenas 13 anos quando foi deportada para Auschwitz-Birkenau, na Polônia.   

Ao chegar ao campo de extermínio, foi separada do pai, com quem não voltaria mais a se reunir. Com o número 75.190 tatuado no braço, a jovem fez trabalhos forçados em uma fábrica de munições e, em janeiro de 1945, participou da chamada “marcha da morte”, a transferência de prisioneiros da Polônia para a Alemanha. Segre foi libertada em maio daquele mesmo ano pelo Exército soviético e passou a viver com os avós maternos, os únicos sobreviventes da família. (ANSA)