Depois de um ano e meio escrevendo neste espaço, terei de dizer até logo. Ao contrário do Chacrinha, espero ter mais ajudado a explicar do que a confundir, nestes tempos de tanta confusão. Agradeço a quem quer que tenha me acompanhado.

Um tema constante desta coluna foi a necessidade de surgimento de uma terceira via nas eleições do ano que vem. Despeço-me com ele.

Conceder um segundo mandato a Bolsonaro é impensável, pela peculiar combinação de  incompetência e perversidade que ele exibiu no cargo. Por onde se olhe, o seu governo é abaixo da crítica.

Devolver Lula ao Planalto também seria lastimável. Sua presidência, em boa medida,  seria dedicada a remendar a imagem do PT, por meio de mentiras e “reinterpretações” da história. O país continuaria prisioneiro de velhas pautas e velhos ódios, quando tudo que precisa é olhar para frente.

Nesta semana, a presidente do PT Gleisi Hoffmann disse que o PT não se envolveu em corrupção na Petrobras. Assim mesmo, e nem ficou ruborizada. Esse esforço de recriação do passado vai quadruplicar de intensidade com Lula no poder.

O próprio Lula, semanas atrás, reviveu um assunto decrépito, a regulamentação dos meios de comunicação, que sempre obcecou o PT. Ele depois deu uma cambalhota, disse que esse não era assunto para a Presidência, mas para o Congresso. Alguém certamente o alertou que demonstrar dessa maneira que o ressentimento está borbulhando logo abaixo da superfície não ajuda o seu projeto eleitoral.

Se você acha que o ressentimento não será uma das forças motrizes de um governo petista, sugiro a leitura de um livrinho do historiador francês Marc Ferro, “O Ressentimento na História” (Ed. Agir).

Ferro diz que a origem do ressentimento é sempre uma ferida, um trauma. E completa: “A revivescência da ferida passada é mais forte do que toda vontade de esquecimento. A existência do ressentimento mostra o quanto é artificial o corte entre passado e presente – um vive no outro, o passado tornando-se presente, mais presente que o presente.”

A vitória de uma candidatura alternativa é dificílima, como já discuti aqui. Não significa que o projeto possa ser abandonado.

Sérgio Moro voltou a dar sinais de que planeja concorrer no ano que vem. Ele começaria a corrida com algo como 10% de intenção de voto – o número mágico, segundo quem entende de pesquisas, para tornar um candidato competitivo. Ele também parece estar bem posicionado para roubar eleitores de Jair Bolsonaro durante a campanha e desalojá-lo do segundo turno.

Acho que a presença de Moro nos debates políticos seria importante. Ficaria mais difícil para o PT apresentar uma realidade alternativa aos eleitores. Com todos os erros que a Lava Jato cometeu, ela trouxe à luz um núcleo de verdade que precisa ser preservado.

Já não estou tão certo de que uma presidência Moro funcionaria bem. Ele enfrentaria enorme resistência no meio político, que o detesta. O Brasil tem problemas demais, não pode se dar ao luxo de mais quatro anos de paralisia.

Além disso, pouco se sabe do que pensa Moro a respeito de economia e políticas sociais. Também não se sabe qual a sua verdadeira capacidade de gestão – ele saiu do Ministério da Justiça, sua primeira experiência no Executivo, sem nada para mostrar.

Acredito que candidatos como Henrique Mandetta e Eduardo Leite teriam mais chances de não apenas acalmar o ambiente político, mas também de recompor a confiança dos brasileiros na atividade política. São novidades promissoras, e não desastrosas como Bolsonaro.

Repito: é difícil que uma dessas alternativas frutifique. Mas não é hora de jogar a toalha.