Pelo menos 40 pessoas morreram nas inundações causadas pelo devastador transbordamento de um lago glacial na quarta-feira (4) no nordeste da Índia, deixando milhares de desalojados, conforme um novo relatório divulgado nesta sexta-feira (6) pelas autoridades.

“Dezenove corpos foram encontrados”, disse V.B. Pathak, o mais alto funcionário do estado de Sikkim, onde o lago está localizado.

Em Bengala Ocidental, um estado vizinho, 21 corpos foram recuperados nos últimos três dias, disse Shama Parveen, magistrado de distrito.

O lago Lhonak, localizado na base de uma geleira perto de Kangchenjunga, a terceira montanha mais alta do mundo, transbordou na quarta-feira e devastou um vale.

Anunciado na quinta-feira pelas autoridades, o número anterior era de pelo menos 14 mortos, mas as equipes de busca e resgate recuperaram mais corpos durante a noite, enquanto a torrente de água se dirigia para o golfo de Bengala.

Entre os mortos, estão seis soldados do Exército indiano destacados em Sikkim, perto das fronteiras com o Nepal e a China, e onde existe uma presença militar significativa.

Quase 8.000 pessoas tiveram de se refugiar em acampamentos montados em escolas, repartições públicas e albergues, conforme nota divulgada pelo estado de Sikkim.

– Exército mobilizado –

Nesta sexta-feira, as condições meteorológicas melhoraram, portanto “pode haver uma janela de oportunidade para retirar de helicóptero os turistas presos”, acrescenta o comunicado.

Um comunicado do Exército indiano indicou que os soldados envolvidos nas operações de resgate socorreram cerca de 1.500 turistas presos nas áreas mais afetadas.

Os helicópteros militares também levaram suprimentos para as pessoas que ficaram isoladas, disse V.B. Pathak.

“Estamos fazendo todo o possível para levar materiais de socorro à população e para restaurar infraestruturas”, declarou.

Uma torrente de água correu rio abaixo, somando-se às águas de um rio que já transbordou pelas monções. A água danificou uma represa e destruiu edifícios, pontes e linhas telefônicas, o que dificulta a retirada da população e a comunicação com milhares de pessoas isoladas do restante do país.

Os danos se estendem por mais de 120 quilômetros, as estradas da região estão “gravemente” danificadas, e 14 pontes foram destruídas, segundo as autoridades.

– “A causa principal” –

O governo indiano declarou ter desbloqueado financiamento público para restaurar a situação. O primeiro-ministro Narendra Modi prometeu dar “todo o apoio possível” às pessoas afetadas.

O lago perdeu quase dois terços de seu tamanho, devido ao transbordamento, uma área equivalente a 150 campos de futebol, segundo imagens de satélite divulgadas pela Organização Indiana de Pesquisa Espacial.

Entre 2011 e 2020, as geleiras do Himalaia derreteram 65% mais rápido do que na década anterior, de acordo com um relatório publicado em junho pelo Centro Internacional para o Desenvolvimento Integrado de Montanhas (ICIMOD, na sigla em inglês).

“A principal causa é a mudança climática, e a situação vai piorar no futuro”, disse à AFP Arun Bhata Shrestha, especialista em mudança climática do ICIMOD.

“Nenhuma das situações possíveis é boa”, acrescentou. “Mesmo o cenário mais modesto mostra que (…) estes eventos de cheias de lagos glaciais serão muito prováveis”.

A temperatura média na superfície da Terra aumentou quase 1,2°C, em comparação com a era pré-industrial, mas as regiões montanhosas estão aquecendo a uma taxa dez vezes superior, segundo climatologistas.

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