RESUMO

• PT bate cabeça no diálogo com o Congresso e na condução de pautas
• Reforma ministerial já está sendo falada a plenos pulmões
• Até a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, não está segura no cargo, com saraivada de críticas
• José Guimarães, líder do governo na Câmara, já se coloca na fila para suceder Gleisi
• Antigos líderes, como Ricardo Berzoini e José Dirceu, saem da sombra para colocar o dedo na ferida

 

O PT precisa de pacificação para poder voltar ao jogo. Essa é a avaliação de ao menos dois dirigentes do partido com influência nacional a respeito da turbulência que assola o partido depois da série de derrotas no Congresso em maio. Parlamentares derrubaram vários vetos do presidente Lula, que expuseram três problemas que emergiram após as desastradas votações:
a precariedade da articulação política do Palácio do Planalto,
a pouca confiabilidade nos partidos que compõem a base aliada
e, o mais preocupante, a eclosão das divergências internas dentro do próprio PT em várias instâncias.

A legenda está rachada.

No Congresso, já se fala abertamente em “correção de rumos” na relação com Câmara e com o Senado. Os mais ousados falam em reforma ministerial, evidenciando que uma ala dos apoiadores do governo admite ceder mais espaço para o guloso e voraz Centrão na administração federal – como se isso fosse suficiente para fazer com que os partidos da base aliada parassem de votar contra as proposições e ideais do Planalto.

Outros pregam um pouco mais de pragmatismo sem ter de “abrir” a porteira para a “boiada” para a sanha de cargos e verbas de muitos parlamentares.

No centro da discussão está a hoje inexistente relação entre o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, alvo de pesadas críticas de todos os lados, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). As divergências começam na antessala do presidente Lula: há quem queira a troca de Padilha – e que o governo seja menos PT e mais “aberto” a outras lideranças de centro no Congresso. Outros, contudo, entendem que Padilha pode ficar desde que faça as pazes com Lira.

A falta de consenso na articulação política afeta a condução do partido e coloca, novamente, a presidente da sigla, a deputada federal Gleisi Hoffmann, como alvo de pesadas críticas por sua atuação – ou falta de atuação – para debelar as crises envolvendo os partidos aliados. Ela nunca foi unanimidade na sigla, mesmo sendo bancada por Lula, mas agora sua performance está sendo abertamente criticada por gente como o colega de bancada José Guimarães (CE), líder do governo na Câmara.

Ele sugere alterações rápidas na cúpula do partido e acha que a presidência da legenda precisa deixar de ser “sulista”. “Por que não um nordestino para comandar o partido? Precisamos de uma visão diferente. Eu mesmo me colocou à disposição”, declarou recentemente como forma de rebater os rumores e que Lula pensa em Edinho Silva, prefeito de Araraquara, no interior de São Paulo, para suceder Gleisi. As ideias de Guimarães não repercutiram bem em algumas alas petistas.

Sob pressão, PT racha em várias frentes e vê ‘fogo amigo’ crescer
José Guimarães (esq.), líder do governo na Câmara, quer correção de rumo e um nordestino na presidência do PT; Lula deseja o paulista Edinho Silva (dir.) no cargo (Crédito:Roque de Sá)
Sob pressão, PT racha em várias frentes e vê ‘fogo amigo’ crescer
(Valter Campanato/Agência Brasil)

“PT analógico”

Outros dois nomes de peso também mostraram que há insatisfação generalizada com a condução atual do partido e também com a articulação política no Congresso.

• Ricardo Berzoini, ex-deputado federal, ex-ministro e ex-presidente do partido, afirmou recentemente que o “PT está analógico, com dificuldades para perceber as mudanças no mundo e para reverter o resultado muito ruim da eleição municipal de 2020”. Ele critica a atuação do partido em 2024 e a falta de eficiência na estratégia de comunicação do governo federal.

José Dirceu, ex-deputado federal e ex-ministro-chefe da Casa Civil, disse em um evento da Esfera Brasil que o governo Lula faz um “governo de centro-direita, bem de acordo com a base governista no Congresso”. Ele tentou se retratar depois, mas não foi suficiente para aplacar a fúria de alas petistas que não gostam de sua reabilitação e de sua eventual candidatura a deputado federal em 2026.

Muitos de seus posicionamentos miram a gestão Gleisi no partido, principalmente depois que ela assumiu uma postura “monocrática” na eleição em Curitiba que prejudicou seu filho, o deputado Zeca Dirceu.

Dizendo que seguia as diretrizes da Executiva Nacional, Gleisi anunciou o apoio do partido a Luciano Ducci (PSB), como candidato a prefeito de Curitiba. Zeca Dirceu, que é pré-candidato ao cargo, afirmou que vai recorrer da decisão ao Diretório Nacional e está furioso com Gleisi.

“O PT paga o preço muito alto pela contradição de defender o seu passado e sua história e ter de buscar a governabilidade em um Parlamento onde tem minoria”, diz o cientista político Elias Tavares. “Em algum momento, o partido seria cobrado por negociações com o Centrão, que cobra muito caro por seu apoio, e pela decisão de ter Geraldo Alckmin, antigo adversário, como vice-presidente. Esse equilíbrio delicado está sendo colocado à prova agora, quando alas petistas cobram mudanças de rumo do governo e da Executiva do partido simultaneamente.”