07/06/2024 - 8:00
RESUMO
• PT bate cabeça no diálogo com o Congresso e na condução de pautas
• Reforma ministerial já está sendo falada a plenos pulmões
• Até a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, não está segura no cargo, com saraivada de críticas
• José Guimarães, líder do governo na Câmara, já se coloca na fila para suceder Gleisi
• Antigos líderes, como Ricardo Berzoini e José Dirceu, saem da sombra para colocar o dedo na ferida
O PT precisa de pacificação para poder voltar ao jogo. Essa é a avaliação de ao menos dois dirigentes do partido com influência nacional a respeito da turbulência que assola o partido depois da série de derrotas no Congresso em maio. Parlamentares derrubaram vários vetos do presidente Lula, que expuseram três problemas que emergiram após as desastradas votações:
• a precariedade da articulação política do Palácio do Planalto,
• a pouca confiabilidade nos partidos que compõem a base aliada
• e, o mais preocupante, a eclosão das divergências internas dentro do próprio PT em várias instâncias.
A legenda está rachada.
No Congresso, já se fala abertamente em “correção de rumos” na relação com Câmara e com o Senado. Os mais ousados falam em reforma ministerial, evidenciando que uma ala dos apoiadores do governo admite ceder mais espaço para o guloso e voraz Centrão na administração federal – como se isso fosse suficiente para fazer com que os partidos da base aliada parassem de votar contra as proposições e ideais do Planalto.
Outros pregam um pouco mais de pragmatismo sem ter de “abrir” a porteira para a “boiada” para a sanha de cargos e verbas de muitos parlamentares.
No centro da discussão está a hoje inexistente relação entre o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, alvo de pesadas críticas de todos os lados, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). As divergências começam na antessala do presidente Lula: há quem queira a troca de Padilha – e que o governo seja menos PT e mais “aberto” a outras lideranças de centro no Congresso. Outros, contudo, entendem que Padilha pode ficar desde que faça as pazes com Lira.
A falta de consenso na articulação política afeta a condução do partido e coloca, novamente, a presidente da sigla, a deputada federal Gleisi Hoffmann, como alvo de pesadas críticas por sua atuação – ou falta de atuação – para debelar as crises envolvendo os partidos aliados. Ela nunca foi unanimidade na sigla, mesmo sendo bancada por Lula, mas agora sua performance está sendo abertamente criticada por gente como o colega de bancada José Guimarães (CE), líder do governo na Câmara.
Ele sugere alterações rápidas na cúpula do partido e acha que a presidência da legenda precisa deixar de ser “sulista”. “Por que não um nordestino para comandar o partido? Precisamos de uma visão diferente. Eu mesmo me colocou à disposição”, declarou recentemente como forma de rebater os rumores e que Lula pensa em Edinho Silva, prefeito de Araraquara, no interior de São Paulo, para suceder Gleisi. As ideias de Guimarães não repercutiram bem em algumas alas petistas.
![Sob pressão, PT racha em várias frentes e vê ‘fogo amigo’ crescer 3 Sob pressão, PT racha em várias frentes e vê ‘fogo amigo’ crescer](https://istoe.revistaseditora3.com.br/wp-content/uploads/2024/06/41.jpg)
![Sob pressão, PT racha em várias frentes e vê ‘fogo amigo’ crescer 4 Sob pressão, PT racha em várias frentes e vê ‘fogo amigo’ crescer](https://istoe.revistaseditora3.com.br/wp-content/uploads/2024/06/40.jpg)
“PT analógico”
Outros dois nomes de peso também mostraram que há insatisfação generalizada com a condução atual do partido e também com a articulação política no Congresso.
• Ricardo Berzoini, ex-deputado federal, ex-ministro e ex-presidente do partido, afirmou recentemente que o “PT está analógico, com dificuldades para perceber as mudanças no mundo e para reverter o resultado muito ruim da eleição municipal de 2020”. Ele critica a atuação do partido em 2024 e a falta de eficiência na estratégia de comunicação do governo federal.
• José Dirceu, ex-deputado federal e ex-ministro-chefe da Casa Civil, disse em um evento da Esfera Brasil que o governo Lula faz um “governo de centro-direita, bem de acordo com a base governista no Congresso”. Ele tentou se retratar depois, mas não foi suficiente para aplacar a fúria de alas petistas que não gostam de sua reabilitação e de sua eventual candidatura a deputado federal em 2026.
Muitos de seus posicionamentos miram a gestão Gleisi no partido, principalmente depois que ela assumiu uma postura “monocrática” na eleição em Curitiba que prejudicou seu filho, o deputado Zeca Dirceu.
Dizendo que seguia as diretrizes da Executiva Nacional, Gleisi anunciou o apoio do partido a Luciano Ducci (PSB), como candidato a prefeito de Curitiba. Zeca Dirceu, que é pré-candidato ao cargo, afirmou que vai recorrer da decisão ao Diretório Nacional e está furioso com Gleisi.
“O PT paga o preço muito alto pela contradição de defender o seu passado e sua história e ter de buscar a governabilidade em um Parlamento onde tem minoria”, diz o cientista político Elias Tavares. “Em algum momento, o partido seria cobrado por negociações com o Centrão, que cobra muito caro por seu apoio, e pela decisão de ter Geraldo Alckmin, antigo adversário, como vice-presidente. Esse equilíbrio delicado está sendo colocado à prova agora, quando alas petistas cobram mudanças de rumo do governo e da Executiva do partido simultaneamente.”