O presidente Jair Bolsonaro autorizou nesta sexta-feira o envio das Forças Armadas para ajudar no combate aos incêndios na Amazônia e na repressão a atividades criminosas na região.

O decreto será aplicado a territórios indígenas, áreas de conservação e outras zonas dos estados da Amazônia Legal. Segundo o decreto, o emprego das Forças Armadas ocorrerá em articulação com os órgãos de segurança pública e caberá ao Ministro da Defesa definir a alocação dos meios disponíveis e os comandos responsáveis pela operação.

A medida autoriza ações “preventivas e repressivas” contra crimes ambientais e a identificação e o combate a focos de incêndio na Amazônia, desde que seja solicitado pelo governador do estado afetado.

Roraima e Rondônia já solicitaram ajuda.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que ofereceu a Bolsonaro ajuda para combater os incêndios.

“Acabo de falar com o presidente Jair Bolsonaro”, tuitou Trump, enfatizando suas boas relações com Bolsonaro e as perspectivas comerciais futuras. “Disse-lhe que se os Estados Unidos puderem ajudar com os incêndios na floresta Amazônica, estamos prontos para fazer isso!”.

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O presidente da França, Emmanuel Macron, pediu aos pares do G7 que discutam a “emergência” no Brasil na cúpula que acontecerá neste final de semana em Biarritz. O bloco das principais economias ocidentais disse nesta sexta que trabalha em uma resposta “concreta” aos incêndios na Amazônia.

“Os incêndios que assolam a selva amazônica não somente são comoventes, mas também uma crise internacional. Estamos dispostos a proporcionar toda a ajuda que pudermos para controlá-los e ajudar a proteger uma das maiores maravilhas da Terra”, disse o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

A França e a Irlanda indicaram que se o Brasil não cumprir seus compromissos ambientais, o acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul pode se ver ameaçado.

O ministro finlandês das Finanças, Mika Lintilä, anunciou nesta sexta que proporá a seus homólogos europeus a proibição das importações de carne bovina brasileira para protestar contra a gestão dos incêndios na Amazônia.

O ministro finlandês, país que ocupa atualmente a presidência rotatória da UE, declarou em comunicado que “condena a destruição da floresta amazônica e propõe que a UE e a Finlândia examinem urgentemente a opção de proibir as importações de carne bovina brasileira”.

“Se não houver nenhum avanço, estou disposto a levar essa questão aos outros ministros das Finanças da UE” durante a reunião informal que manterão em 13 e 14 de setembro na Finlândia, acrescentou.

Os incêndios no Brasil aumentaram 85% este ano em relação ao mesmo período de 2018. Dados de satélite do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) apontam até 22 de agosto 76.720 focos de incêndio – 1.384 a mais que no dia anterior -, com 52,6% na região amazônica.

Outros 29,8% estão localizados no Cerrado e o restante em outros biomas, como a Mata Atlântica e o Pantanal, em alguns casos com efeitos em países vizinhos como Bolívia e Peru.

O Brasil está na estação seca, quando os incêndios são frequentes, embora especialistas concordem que o aumento acentuado dos focos deve-se ao desmatamento, que também segundo dados do INPE e de outras instituições aumentou exponencialmente nos últimos meses.

Celebridades como Madonna, Ricky Martin, Novak Djokovic e Leonardo DiCaprio acentuaram a pressão e organizações não-governamentais convocaram mobilizações em frente a embaixadas e consulados brasileiros, apesar de muitas vezes usarem fotos antigas ou de outros lugares.

Em seu encerramento nesta sexta em Salvador, a Semana do Clima da América Latina e Caribe manifestou sua solidariedade com os atingidos pelos incêndios e lembrou que proteger as florestas do mundo é uma responsabilidade coletiva.


Porto Velho, capital do estado de Rondônia (limítrofe com Bolívia), amanheceu coberta por uma fina camada de fumaça avermelhada. Espessas colunas de fumaça podiam ser vistas sobre as florestas do estado, onde as chamas de vários incêndios são visíveis ao longo de quilômetros.

O governador do estado de Acre (fronteiriço com Bolívia e Peru), igualmente afetado pelo fogo, decretou estado de emergência.

O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, criticou Bolsonaro em discurso por ocasião da Semana do Clima da América Latina e do Caribe em Salvador.

“O mundo não tolerará mais uma governança irresponsável sobre a Amazônia (…) negar o aquecimento global não é uma coisa séria, não é uma coisa inteligente”, afirmou.

– Preocupação comercial –

Bolsonaro inicialmente deu respostas com tom fortemente nacionalista. Na quinta-feira, denunciou uma atitude “colonialista” de Macron por ter proposto levar a questão ao G7.

“Lamento que o presidente Macron busque instrumentalizar uma questão interna do Brasil e de outros países amazônicos p/ ganhos políticos pessoais”, tuitou o presidente de extrema-direita.

Mas isso não foi suficiente, tanto pela pressão internacional quanto, segundo a imprensa, pela preocupação dos setores do agronegócio que temem que suas exportações sejam afetadas.

Apesar da retórica, na noite de quinta-feira Bolsonaro finalmente cedeu à pressão internacional e convocou uma reunião de emergência com seus ministros, que receberam ordens para trabalhar no combate dos incêndios.

A preocupação do agronegócio, que teme pagar as consequências, também foi sentida. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina pediu para “abaixar a temperatura” da discussão.

Bolsonaro deve fazer um pronunciamento em rede nacional na noite dessa sexta-feira.

“O governo brasileiro subestimou severamente a escala de preocupação global em torno da Amazônia. Também calcularam de forma errada sobre até que ponto desacelerar o desmatamento pode ameaçar as relações bilaterais e multilaterais”, disse à AFP Robert Muggah, pesquisador do Instituto Igarapé.



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