TCHAU, QUERIDA EM TRÊS ATOS Ao lado de Jaques Wagner, no Alvorada
TCHAU, QUERIDA EM TRÊS ATOS
Ao lado de Jaques Wagner, no Alvorada (Crédito:Adriano Machado/REUTERS)

Se o poder é solitário, como diz a célebre frase, o fim dele pode ser ainda mais eremítico. Assim transcorreram os dias que antecederam a oficialização do afastamento de Dilma Rousseff, na quinta-feira 12. Em um cenário oposto ao da noite de votação do impeachment na Câmara, quando ainda nutria alguma esperança de se manter no poder, na quarta-feira 11 Dilma dirigiu-se para o Palácio da Alvorada completamente sozinha, a fim de acompanhar a sessão do Senado que selaria o seu destino. No dia seguinte ao do resultado funesto, a presidente foi tomada por um mau humor indisfarçável. Pudera. A quinta-feira 12 pode ter sido o último dia de Dilma no comando do País. Caso o Senado sacramente em até 180 dias seu impedimento, o fim será irremediável. Pela manhã, pouco depois das 10h, ao saber que o senador Vicentinho Alves (PR-TO) estava perto de chegar com a intimação comunicando a instauração do processo de impeachment por crime de responsabilidade, Dilma convocou todos os ministros que estavam no corredor do 3º andar do Palácio do Planalto para o seu gabinete. Tão logo o documento foi assinado, o ministro Miguel Rossetto ensaiou uma salva de palmas. Pela trapalhada, recebeu uma reprimenda da chefe na frente dos colegas. A segunda bronca foi dedicada ao chefe de gabinete e ex-ministro Jaques Wagner, porque este insistiu que ela não deveria exonerar seus ministros. “Presidenta, deixe esse constrangimento para Temer, a fim de reforçar a tese do golpe”, sugeriu. Dilma não só não concordou, como o censurou imediatamente.

Segundo auxiliares, dilma demonstrou frieza nas últimas
24 horas em que esteve no comando da presidência

Depois do último pronunciamento
Depois do último pronunciamento (Crédito: fotos: Adriano Machado/REUTERS; VANDERLEI ALMEIDA/AFP PHOTO)

Um interlocutor que esteve com Dilma nas 24 horas anteriores ao afastamento a definiu como “fria. Absolutamente fria.” Os mais próximos dizem que essa é uma característica manifestada por ela especialmente em momentos de crise. De tão gélida, a presidente ganha objetividade e, às vezes, até faz troça da própria desgraça. Nos momentos de reflexão, a frase mais recorrente foi: “Fizemos tudo o que podíamos”. Já as reclamações mais contundentes foram destinadas aos que viraram casaca aos 45 do segundo tempo. Nos últimos dias, Dilma descobriu que o então ministro Waldir Simão, do Planejamento, vinha mantendo reuniões secretas com o nome escolhido por Temer para comandar a pasta, o senador Romero Jucá. Outra decepção foi saber que outro funcionário Dyogo Oliveira, que foi secretário executivo de Nelson Barbosa no Planejamento e posteriormente na Fazenda, também estava fechado com Jucá para integrar sua equipe.

Apesar de abatida e ciente de que será praticamente impossível reverter sua situação, ela continuará insistindo na tese de que foi afastada injustamente e que foi vítima de um golpe, o que mostra que ela ainda permanece mergulhada no mundo da fantasia que ela criou para si mesma. Nesse mundo paralelo, não houve pedaladas fiscais nem estelionato eleitoral, muito menos envolvimento de petistas no Petrolão. No País das maravilhas de Dilma também não existiram tentativas de obstrução de Justiça, por ela mesma, nem tramas para dificultar os trabalhos da Lava Jato. As delações de Delcídio do Amaral e, mais recentemente, de Marcelo Odebrecht teriam sido apenas quimeras.

No mundo paralelo de dilma, não houve estelionato eleitoral,
pedaladas fiscais nem tentativas de obstruir o trabalho da justiça

Sendo observada por Lula, já fora do Palácio do Planalto
Sendo observada por Lula, já fora do Palácio do Planalto (Crédito:Igo Estrela/Getty Images)

No mundo real, Dilma vai tirar os próximos dias para descansar. Pretende viajar para Porto Alegre para visitar sua filha, Paula, e seus netos Gabriel e Guilherme, que ainda é de colo. Durante o período em que estiver afastada, continuará contando com um avião da Força Aérea Brasileira para levá-la para onde ela quiser. Poder viajar em jatinhos da FAB era uma questão crucial para ela, que anseia percorrer o Brasil e exterior a fim de entoar a já enfadonha cantilena do “golpe”. Outra regalia obtida foi o direito a salário integral, no valor de R$ 27,8 mil. As prerrogativas da petista foram anunciadas pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tão logo foi divulgado o resultado da votação do impeachment. Dilma também terá direito a carro oficial com motoristas, segurança pessoal e assistência médica, além de uma estrutura de gabinete pessoal. O ex-presidente Lula, no entanto, ficará afastado. Na semana passada, o petista confidenciou a amigos já ter cumprido sua missão. Agora, vai cuidar da própria sorte.