A vitória de Lula neste domingo não significa apenas interromper ou desacelerar o crescimento do bolsonarismo. Somente a eleição do candidato do PT pode sustentar, pelo menos por mais algum tempo, o jogo político no Brasil. Se Lula chegar vitorioso à segunda-feira, é certo que ele terá quatro anos muito difíceis pela frente, num embate pesado com a oposição de um Congresso repleto de apoiadores de Bolsonaro. Mas. em caso de uma derrota petista, passa a ter caráter oficial o total esfacelamento da oposição no País. Exagero? Tudo leva a crer que não.

Basta um exercício hipotético de retirar a figura de Lula do processo eleitoral deste ano. Vamos imaginar, por exemplo, que Lula talvez pudesse ter anunciado sua retirada da vida pública após ser solto da prisão em Curitiba. Quais seriam as forças que disputariam o espaço aberto por essa imaginária desistência? Ciro? Tebet? Esses exibiram seus tetos de desempenho na campanha, bem baixinhos. Haddad para o Planalto? Nem no seu terreiro eleitoral, onde carrega um mandato cumprido com avaliações divididas, ainda assim um mandato para chamar de seu, ele teve um desempenho parrudo. Conseguiu ser ultrapassado no primeiro turno pelo candidato que virou meme por não conhecer coisas básicas a respeito de São Paulo, um turista acidental. O que poderia ser esperado desse Haddad numa disputa nacional com Bolsonaro? Realmente, sem Lula, o presidente provavelmente já estaria reeleito.

A oposição ao bolsonarismo não é o PT, é Lula, o homem Luiz Inácio, conduzido por um carisma pessoal maior que qualquer base partidária, o homem que cativa pessoas diante do midiaticamente desagradável Bolsonaro. Ao chegar a esse segundo turno acirrado contra Bolsonaro, Lula já é vitorioso, como um homem solitário enfrentando uma máquina de governo programada há quatro anos para abrir e pavimentar o caminho de Bolsonaro à reeleição. Não é brincadeira dizer que o atual presidente começou sua campanha de 2022 no primeiro dia de 2019. Azeitou uma máquina que não hesitou em ações eleitoreiras e danosas à população, em armações e mentiras que foram esmiuçadas pela imprensa. E o que se viu foi o fenômeno de nomes que se mostraram enfiados até o pescoço nessas ações nocivas ganharem como recompensa cadeiras na Câmara e no Senado.

Sem Lula no Planalto, a oposição no Brasil simplesmente desaparece. Talvez, com tudo dando certo para os defensores de um pensamento de esquerda, daqui a quatro anos um nome possa surgir para tentar novamente uma oposição com chances de triunfo eleitoral. Mas aí já teríamos outros quatro anos de Bolsonaro no poder. Se seus defensores conseguiram avançar bastante da derrubada das instituições democráticas, mesmo com o espectro de um Lula reconduzido ao Planalto, o que fariam então em quatro anos de ampla maioria no Congresso e com as instituições de defesa da democracia cada vez mais sucateadas?

Lula precisa vencer, para que um dos lados do jogo político brasileiro não simplesmente desapareça.